Cócó, Ranheta e Facada

Sim, o certame é bom para a imagem do país. Contudo, a verdadeira propaganda é dada pelos números que, como o algodão, não enganam.

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  • 23:47 | Sábado, 27 de Junho de 2020
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O que mais me custa ver nos políticos nem é tanto o ilusionismo e o encosto, que alguns ostentam, e com que tapam a incompetência e o abuso. É mesmo a maluqueira da fama, a sofreguidão tonta de aparecer, a atracção pelo palco. Babam-se por 5 minutos de fama. Parecem baratas tontas. Chega a ser confrangedora a figura que fazem e o papel a que se prestam. Não é só por cá, mas também.

Quando a UEFA anunciou que a fase final da Champions se iria realizar em Lisboa, foi uma excitação nas cabeças decisoras, uma desbunda para as bandas de Belém e S. Bento. Uma orgia tomou conta de salões e gabinetes. Tocaram as trombetas da Marinha e estrudearam os aplausos dos servis assessores e demais polidores. Não é que não seja bom, que é. Mas… Esta subserviência do poder político enoja-me. E é perigosa pelo polvo que alimenta. Mas… Se os jogos forem à porta fechada, ainda não atingi que ganhos relevantes o acontecimento terá para a economia nacional. Para além das equipas e dos jornalistas, apenas virá gente mal frequentada, uns tantos grunhos que se vão alarvar com cachorros quentes e arrasar a baixa da capital, à conta dumas litradas de cerveja. Se os jogos tiverem espectadores, lá se vai a saúde do Zé, tornado inglório o esforço feito, esquecido o exemplo mundial, nunca confirmado.

Sim, o certame é bom para a imagem do país. Contudo, a verdadeira propaganda é dada pelos números que, como o algodão, não enganam.

Temos o segundo pior rácio de novos casos na Europa. Oito países fecharam-nos as portas. Invocando o sempre conveniente princípio da reciprocidade, ameaçámos retaliar, armámo-nos em fortes, mas depois metemos o rabo entre as pernas e, cordeiros de um rebanho sem pastor nem cajado, amaciámos o discurso. Ao invés, escancaramos as fronteiras e por aqui todos entram. Pior, só no cabaré da coxa larga.


Queiramos ou não, estamos na lista negra dos países europeus. Pior, só a Suécia. 85% dos novos casos situam-se na zona da grande Lisboa. Um quarto da população da Área Metropolitana de Lisboa está sob vigilância apertada. Alguns hospitais estão quase no limite. Especialistas dizem que a situação na região de LVT está descontrolada e escasseiam recursos. Entretanto, há surtos em Lagos, Reguengos de Monsaraz, Grândola, Torres Vedras e Aljubarrota. Portugal, desde o desconfinamento, tem um Rt, índice que mede a transmissibilidade do vírus, de 1.19, o valor médio pior entre 27 países. A OMS alerta que a pandemia está a crescer a um ritmo alarmante.

Então, esclareçam-me lá os iluminados, o festim vem a propósito de quê? Da vaidade, da vã glória, do pedantismo. É o nacional-pequenismo no seu melhor. Simplesmente, patético e parolo. Por uma merdice de nada, convocam-se os OCS e juntam-se os confrades. Se as coisas derem para o torto, já há cabeças. Espero que os carrascos as cortem com um serrote de carpinteiro.

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Publicado em Opinião