Cientistas: Ei-los que partem!
O sistema científico tem estado em aceso debate nos últimos dias. E tem estado porque, de facto, assistimos a um corte de 40% nas bolsas de doutoramento e de 65% nas bolsas de pós-doutoramento. Não se pense que tal se deve a uma redução em consonância com a diminuição do orçamento para a ciência, pois […]
O sistema científico tem estado em aceso debate nos últimos dias. E tem estado porque, de facto, assistimos a um corte de 40% nas bolsas de doutoramento e de 65% nas bolsas de pós-doutoramento. Não se pense que tal se deve a uma redução em consonância com a diminuição do orçamento para a ciência, pois essa foi de 4%.
E se isto já por si é grave, direi mesmo muito grave, ainda assistimos à demissão de avaliadores de vários painéis de diversas áreas científicas com a queixa de que houve alterações grosseiras às avaliações efetuadas por esses júris.
E, nem o ministro, nem o presidente da FCT – fundação para a ciência e tecnologia (entidade promotora dos concursos) esclareceram esta matéria aquando das suas idas, sob pressão, à Assembleia da República.
Estamos, pois, ante um enorme rombo não só na nossa capacidade de produzir investigação, mas também perante um convite (estranho convite!) para que os nossos recursos humanos mais qualificados, os investigadores, que investiram uma vida na investigação, peguem agora na mala às costa e rumem ao estrangeiro para poderem trabalhar naquilo que sempre os motivou e que faziam bem.
E não haveria nenhum drama nessa ida para além fronteira, se ela correspondesse a um trabalho de interação entre centros de investigação internacional, se ela correspondesse ao aprofundamento de projetos comuns. Nada disso, porém, se passa. O que acontece é que, com esta estratégia de redução no número de bolsas atribuídas, milhares de investigadores portugueses, são empurrados para o exílio por um governo que se especializou em mandar emigrar a nossa geração mais jovem e, afinal, todos os outros, sejam mais ou sejam menos qualificados.
Ei-los, portanto, que partiram e que partem!
E partem fruto de uma opção clara, deste governo, num modelo de desinvestimento na educação e na investigação científica. É um erro, sem dúvida, mas é um erro assente em pressupostos ideológicos de um ministro que desde o início outra coisa não tem feito. De um ministro que tem apostado num sistema educativo reprodutor das desigualdades sociais e contrário à igualdade de oportunidades, ou seja, de um modelo elitista. Veja-se, para além da ciência, tudo quanto tem acontecido também no ensino básico e secundário (por exemplo, privatização e combate à escola inclusiva).
E esta opinião crítica é só do PS?
Não, não é. Basta ler o que têm dito os investigadores mais reputados e até anteriores responsáveis políticos, de todos os quadrantes partidários, e facilmente se conclui que esta é uma opção errada para Portugal e que deixa as nossas empresas e as nossas universidades nas mãos da investigação que é feita no estrangeiro.