Em 2019 foi atribuído a Chico Buarque da Hollanda o Prémio Literário Camões que visa homenagear um grande escritor da Língua Portuguesa.
O diploma de agraciamento é assinado pelos dois presidentes da República, do Brasil e de Portugal.
Na altura o então presidente Bolsonaro recusou-se a assinar o diploma. Não porque discordasse da obra literária do escritor, que decerto desconheceria, mas sim por as ideias políticas de Chico Buarque serem opostas às suas.
Por seu turno, Chico Buarque entendeu que a assinatura dele aposta no diploma macularia irreversivelmente a distinção.
Decorreram quatro anos e hoje, em Portugal, Lula da Silva e Marcelo Rebelo de Sousa galardoaram o escritor.
Os seus discursos foram pontos altos na aclamada cerimónia. O discurso de Chico Buarque foi igual a si mesmo, brilhante, bem-humorado, emocionado.
Lembrei-me de um episódio semelhante passado no nosso país com um subsecretário de Estado da Cultura do XII Governo Constitucional de Cavaco Silva, de quem já ninguém recorda o nome e que teve como alvo José Saramago a quem vetou em 1992 o romance O Evangelho Segundo Jesus Cristo, candidato ao Prémio Literário Europeu.
José Saramago teve o reconhecimento com a outorga do maior galardão mundial, o Prémio Nobel da Literatura. O político-censor caiu no esquecimento que a sua vida mereceu e, se alguém ainda o recorda, é pela negatividade do seu acto inquisitorial.