Por este andar, não tarda nada, acabamos todos fardados, penteados da mesma maneira, a usar calçado igual e óculos iguais (mesmo para os que não precisem)!
Andamos em filas e só falamos linguagem previamente autorizada, só lemos livros autorizados, só vemos filmes autorizados, só ouvimos música autorizada .
Isto, faz lembrar tempos e realidades muito tristes e sombrias.
Esta é também uma ditadura imposta por fundamentalistas, que andam por aí de lápis azul, a censurar obras antigas, mundialmente falando.
Desde livros, a monumentos, apenas para citar 2 exemplos, tudo passa pelo crivo destas censoras criaturas.
É certo que colocar Notas didáticas é distinto de alteração e supressão de textos e de frases.
Recentemente uma Investigadora, veio denunciar como racistas, passagens e personagens dos Maias. Alega que a Obra, nessas passagens, defende a superioridade da raça branca em detrimento da negra.
Conclui a investigadora que, será necessário haver notas didáticas e explicativas, nessa obra de Eça de Queirós
Segundo a Investigadora o valor da obra persiste e não está em causa o autor da mesma, leia-se Eça, mas sim as ditas passagens e personagens da obra.
Posso afirmar, sendo algo biográfica, que eu e um número significativo de pessoas amigas lemos, relemos e continuamos a ler os Maias , e tanto eu , como os restantes, somos profundamente antirracistas, sem que esse sentimento e convicção fossem ou sejam beliscados pela obra!
As obras de Eça estão repletas de ironia e de caustica crítica à sociedade de então. Não entender isso, é retirar toda a característica queirosiana, que tão bem consta das várias obras, entre as quais Os Maias.
Há que entender a época em que as várias obras, foram feitas, compostas ou realizadas.
Atentemos por exemplo em Wagner e as suas composições, que eram prediletas dos nazis , que declinavam outros compositores, nomeadamente por serem judeus. Será por sabermos de tal, que deixamos de apreciar a obra de Wagner? Não me parece.
Corremos o risco de, por fundamentalismos bacocos, aproximarmo-nos dessas ideologias, que levaram a queimar livros e a ostracizar obras, por serem julgadas impróprias por uma crença dominante.
Não se esqueça, que nessa linha de ideias, os Lusíadas de Luís Vaz de Camões, era lecionado, no Estado Novo, com a supressão dos Cantos IX e X – a Ilha dos Amores.
Porque, segundo os ditames da altura, atentavam contra a moral e os bons costumes !!! Imagine-se!!!
Nessa esteira temos ainda um deputado, com outros seguidores, que defendem , ou parecem defender a retirada do Padrão dos Descobrimentos.
Um ex libris, nessa zona junto ao Tejo.
E para essa triste ideia, a justificação mais não é que, o Monumento que assinala os Descobrimentos Portugueses, foi construído no Estado Novo, para a Exposição do Mundo português. assinalando a Expansão Marítima.
Insuficiente e redutora ideia, que leva à pergunta:
Houve ou não Descobrimentos? Existiram ou não, as pessoas que figuram quer num lado do Monumento, quer no outro, bem como o Infante, figura da proa?
E foram ou não importantes esses eventos na nossa História?
A resposta só pode ser afirmativa!
Então, a conclusão deve ser a manutenção do Padrão dos Descobrimentos, no local onde se encontra.
No apoio a essas opiniões, tínhamos de retirar a Ponte rebatizada por Ponte 25 de Abril, porque foi construída no Estado Novo; tínhamos de retirar as Igrejas construídas ou existentes em tempos de Inquisição e ainda as cordas entrelaçadas, os nós , e outros sinais existentes, no estilo manuelino em vários edifícios históricos, porque aquele estilo faz jus, também , à epopeia dos Descobrimentos.
Aqui chegados, penso que já agreguei leitores deste meu texto, a considerar tais ideias disparatadas e ridículas!
Veja-se os campos de concentração nazi, lá estão nos locais, para que a memória não se apague e os horrores ali passados, não se repitam!
Como referi neste texto, corremos o risco de com estas pretensas “limpezas”, passarmos para uma realidade asséptica ,a preto e branco e duvido que haja gente consciente e pensante que se alegre com essa situação.