Há muito que abandonámos a utopia por uma cidade mais justa, por uma cidade onde se pudesse viver melhor.
Há anos que nos vendem que esta já é a melhor cidade para viver. Como tal, isso não se discute e tornámo-nos uma sociedade um pouco hipócrita, algo niilista e bastante egoísta. A maioria vendeu os sonhos em troca de concessões pessoais aos princípios dominantes do poder nas mãos de poucos…
É assim que o medo se instala: em vez da cooperação, a competição, em vez do espírito colectivo, o meramente individual… e fomos perdendo a individualidade para passar a ser uma massa de consumidores e vítimas, sempre à espera que alguém nos salve.
A cidade vive no medo, medo de perder o emprego por causa da crítica, no medo de perder o negócio por não estar de acordo, no medo de perder o estatuto por não alinhar no sistema, no medo de ser ele próprio por ter de ser igual aos outros. Mas, como diz o poeta, há sempre alguém que resiste, há sempre alguém que diz não!
É a esses a quem pedem para denunciar, para ser a voz crítica da razão, a exposição pública do seu silêncio. É desses que falam e o fazem por cidadania que depois aqueles que calam em público fogem da sua presença para não serem relacionados com eles, os “que só sabem dizer mal”. Fazem-no porque não fogem da mentira, fogem daqueles a quem pediram para dizer a verdade.
Outros há, porém, que se socorrem deles pela utilidade que lhes oferecem. São os chamados políticos, os que aproveitam do seu trabalho crítico para de seguida como virgens ofendidas aproveitarem da situação descartando-se do mensageiro.
Os críticos do sistema dão imenso jeito, mas não para partilharem com eles o mesmo palco, não fosse o povo perceber de que lado está o mérito.
Uma coisa é certa, num caso e noutro, só aceita a cabeçada quem quer!