A duas semanas do início das férias da Páscoa e com um curto 3.º período pela frente, preparava-me eu para sair discretamente e de fininho desta actividade que me consome há 44 anos e 8 meses, e acelerar com todos os pedais, rumo à almejada aposentadoria, agendada para Outubro. Planos e futuros eram, e ainda são, materiais que abundavam nas minhas inflamadas cogitações.
Foi quando, inesperadamente, a pandemia caiu sobre nós, impondo distâncias, destruindo rotinas, pondo à prova a resiliência de cada um e colando enormíssimas dúvidas sobre o futuro ainda mais interrogado.
Eu, hipocondríaco e claustrofóbico, vejo-me à nora para lidar saudavelmente com estas entropias, que me tolhem as esperanças e me furtam o remanso que, talvez abusadoramente, já adoptara.
Habituado a olhar os alunos de frente e a sentir a energia a pulsar dentro da sala de aula, vejo-me agora com 64 risonhas primaveras a ter de me render às TIC e a reverter procedimentos.
E estou a aprender, fazendo, errando e acertando. Nunca desistindo, mesmo que me apeteça, e não são poucas as vezes que o pecado me tenta. Novidade, é lidar com o ensino à distância e com o teletrabalho, comunicar por videoconferência, usar os chats e plataformas digitais, recorrer a ferramentas tecnológicas de que jamais tinha ouvido referências, breves que fossem.
Não está a ser fácil, mas com jeito, vou-me ajeitando.
Entretanto, tudo isto para augurar que as dificuldades sentidas por todos sejam a oportunidade para refrescar o corpo docente, repensar os modelos de ensino-aprendizagem, acolher outras metodologias de avaliação, diminuir o abandono escolar. E construir uma escola nova.
Da minha parte, sinto que, contrariando o aforismo, burro velho ainda aprende línguas.
Depende muito do ensinador.
Quanto mais não seja, aparelhando a carga do animal à vontade do dono.