Belisário Pimenta entrou em 1943 a trabalhar em dois ensaios. Um, que vinha do ano anterior, versava Camões e as artes bélicas. Estava na tipografia, em fase de composição. O outro ocupava-lhe o tempo criativo de escrita e era um estudo sobre Eça de Queirós e os militares. O operoso coronel quer o reconhecimento, mas assusta-se com a ideia de se tornar o centro das atenções. Este homem estudioso teme a chacota, duvida do seu próprio valor. É um problema velho, constitutivo, que a leitura despreocupada do jornal lhe desencadeou em 20 de Janeiro. Sem esperar, encontrou uma breve nota sobre a sua pessoa. Recortou-a, colou-a no diário e comentou-a nos termos seguintes.
«Coimbra:
Janeiro: 20.
Hoje, ao ler pacatamente a folha final de O Primeiro de Janeiro que às quartas-feiras se intitula Das Artes e das Letras e creio ser organizada pelo Jaime Brasil, deparei, com certo espanto com a notícia que aqui deixo colada, metida na secção nos bastidores das letras [: “Investigador erudito das coisas militares que se relacionam com as letras, o sr. coronel Belisário Pimenta tem no prelo um estudo intitulado Camões e as Artes Bélicas e em preparação outro sobre Eça de Queirós e os Militares.”]. A origem da notícia deve ser o próprio Jaime Brasil pois há tempos recebi uma circular do jornal, assinada por ele [,] pedindo notas biográficas e bibliográficas.
Daqui a indiscrição que, se for notada por certos leitores do Janeiro [,] poderá, [palavra ilegível], alguns risos e algumas mofas.
E o pior de tudo é que a notícia é verdadeira. O Camões e as “Artes Bélicas” está a dois terços da sua composição para a Revista da Universidade, e o outro está debaixo de mão e vai crescendo.»
Nuno Rosmaninho