Bairro das Eirinhas e a piedosa caridade da diocese do Porto

A Igreja, por mão dos seus mais altos dignatários, deveria ser exemplar nos seus princípios cristãos e não se enxovalhar desta pública forma que tantas questões levanta. Pode efectivamente ser modelar, mas neste concreto caso deixa dúvidas de polémica resposta e difícil admissão.

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  • 16:20 | Domingo, 13 de Abril de 2025
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No que respeita ao Bairro das Eirinhas, no Bonfim, a diocese do Porto, de olhos aparentemente postos no negócio imobiliário e dando provas de uma cupidez pouco compassiva, vende a uma empresa de construção a herança recebida de uma benemérita, deixando sem tecto 15 famílias e 45 moradores ali residentes há várias gerações, inquilinos que pagavam uma renda e que não tiveram direito, sequer, a exercer a sua legal opção de compra.

Mas a história não fica por aqui pois a diocese do Porto, imbuída de cristianíssimo espírito, terá feito a troca por um “inexistente” (?) T0 avaliado em 230 mil euros. Será?

Por seu turno, Rui Moreira, presidente da câmara do Porto diz nada ter sabido sobre o negócio em questão e acrescenta que, se tivesse tido prévio conhecimento, o município teria adquirido as referidas casas para encontrar solução para os seus moradores. No fundo, uma bofetada de luva branca dada à diocese e aos seus interesses imobiliários, agora tão na moda.


O bispo do Porto, Manuel Linda, contactado pelo presidente da câmara Porto, segundo palavras deste, deu uma resposta ao assunto do tipo “nim”.

Eram casas que o Município do Porto estaria disponível para adquirir por um valor muito superior, garantindo às pessoas que lá moram que continuariam a habitar ali, como temos feito noutros casos”, referiu Rui Moreira.

Mas acrescenta mais, Rui Moreira, acerca da resposta do bispo do Porto: “É uma resposta estranhíssima, porque, no fundo, não me responde, e eu faço perguntas concretas”.

Este caso de alienação de bens doados por beneméritos com o objectivo exclusivo de deixar em mãos de quem supostamente para o bem os destinou, e perante a venda a uma construtora da Póvoa do Varzim que, naturalmente, visará tudo arrasar para aí construir novos prédios ou outra qualquer infraestrutura imobiliária, dá-nos uma visão pouco abonatória da diocese do Porto e do seu responsável e, salvo mais clarificada explicação, de alguém que parece preterir os mais necessitados em prol do lucro fácil – que nada lhe custou a ganhar, pois foi uma doação – e que coloca em primeiro lugar os “trinta dinheiros” sem olhar à desumanidade que causa, ao mal que provoca, à miséria que gera.

Infelizmente, este tipo de situações alastra por toda a parte – até em Viseu – com outros actores que têm em comum o bem da doação alienado por interesses puramente materiais, decerto que em tudo opostos ao espírito da doadora.

Serve o alerta para os beneméritos perceberem que a desvirtuação dos seus legados lhes deve pôr em causa futuras intenções, ou então, serem claros no testamento daquilo que nunca permitirão que se faça com os bens do seu misericordioso património.

A Igreja, por mão dos seus mais altos dignatários, deveria ser exemplar nos seus princípios cristãos e não se enxovalhar desta pública forma que tantas questões levanta. Pode efectivamente ser modelar, mas neste concreto caso deixa dúvidas de polémica resposta e difícil admissão.

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