Em todo o processo formativo dos jovens jogadores, para além dos conteúdos, conhecimento ou comportamento, é fundamental a relação que se estabelece entre o atleta e o treinador. Na verdade, o treinador necessita de fomentar essa relação e o jovem jogador necessita de acreditar na mensagem do seu treinador.
Todos gostamos de ganhar. Como poderia deixar de ser? Mas as crianças e os jovens gostam de aprender. Aprender a fazer as coisas bem, para serem melhores quando forem grandes. O processo é de complexidade crescente. Não podemos querer que aos 9 anos se proceda como aos 17.
Sabemos que não é fácil dar as mesmas oportunidades a todos. Os dirigentes são exigentes. Esperam vitórias, para ontem, dos treinadores, o que é difícil de conciliar com o desejo de cada um dos atletas, que é entrar e jogar.
É injusto e desigual um desporto que só se afirma na glória de uns (os vencedores) e na desvalorização de outros (os vencidos). Quando os motivos principais que levam os mais jovens a fazerem desporto deveriam ser bem outros: aprender, saber fazer, desenvolver capacidades, saber ser e saber estar. Preparando o amanhã.
Em vez de se encorajar para a vitória, esta é tomada como a condição de tudo o mais. Como o objetivo absoluto. Criam-se as circunstâncias para que seja atingida à custa de outros valores e motivos de participação, que não são estimulados: o esforço, o empenhamento, a alegria e o prazer. Despreza-se a importância de fazer coisas bem feitas, de aprender coisas novas (as habilidades, as técnicas, as formas de entender o jogo e de o jogar), de fazer outros amigos e de ter novos companheiros.
Deixem as crianças e os adolescentes aprenderem a ser adultos, devagar. Deem-lhes espaço, autonomia, tempo e todas as condições que lhes permitam ser, estar, descobrir e experimentar. Jogando. Sem pressas de serem grandes num mundo tornado hostil. Jovens que já não têm tempo. Não repliquem os modelos dos adultos nos treinos e competições de iniciação e formação.
Dizem que os bons treinadores são os que chegam às vitórias. Não aqueles que se empenham em criar uma escola, uma vivência mais humana do desporto, em que os jogadores, mais que o objeto, são o centro da atividade. Esta deve ser a primeira e a última razão de ser do desporto. E por esse facto, os treinadores são os garantes de um desporto novo. Um novo desporto, no futuro, renovado, mais à nossa dimensão, mais humano. Um novo desporto justificado não apenas pela transmissão de uma cultura, o seu desenvolvimento, a busca de resultados e o progresso, mas também, e sobretudo, por valores pedagógicos e morais. Os mesmos valores que estiveram no ato da criação do desporto que temos. Agora menos visíveis, a exigir reflexão…
Porque são os “treinadores do ano” escolhidos entre os mais bem sucedidos, os que obtêm resultados? E não entre aqueles que constituem modelos de referência, de responsabilidade pedagógica e moral?
Porque é que o sucesso como treinador de jovens (os critérios que determinam a avaliação de competência) depende mais dos resultados obtidos no presente e menos do número de desportistas que ajudam a formar e que atingem os estágios mais avançados da preparação desportiva, no desporto de alto nível?
A vitória é o importante, e só têm reconhecimento os que dela participam. Está tudo errado quando assim é. Se a isto juntarmos a interferência dos pais durante os treinos e jogos (que é por norma bem mais negativa que produtiva), é assim o tipo de competição que temos nestes escalões e que está a matá-los.
Não admira que os comportamentos destas crianças e destes jovens sejam desviantes e agressivos.
Não compliquem, deixem as crianças fazer aquilo de que eles gostam. Deixem-nas jogar!
Feliz Natal.