As velharias

Os incómodos, surgindo cedo com um protagonista de nome, preencheram toda a primeira semana de campanha. Passos Coelho, que já não tem responsabilidades políticas, desde 2015, fez prova de vida, neste Fevereiro frio. Ao segundo dia, apareceu num comício em Faro. Igual a si mesmo, com um irritante ar professoral, associou a imigração à insegurança, sem documentar essa relação de causa-efeito.

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  • 23:01 | Segunda-feira, 04 de Março de 2024
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Luís Montenegro anda a fazer pela vida, mas as companhias que escolheu colocam-lhe pedras no caminho, complicando os cálculos, afunilando as esperanças. Tinha sido mais avisado, não as convidar, ou sugerir-lhes que seguissem o guião oficial, abstendo-se de inconvenientes opiniões pessoais.

À solta, guiando-se pela sua própria cartilha, mais encostada à direita, são sempre um perigo para quem quer moderar o discurso e “pescar” ao centro. Causando um ruído escusado, só estragam. E trazem à memória, um passado triste.

Os incómodos, surgindo cedo com um protagonista de nome, preencheram toda a primeira semana de campanha. Passos Coelho, que já não tem responsabilidades políticas, desde 2015, fez prova de vida, neste Fevereiro frio. Ao segundo dia, apareceu num comício em Faro. Igual a si mesmo, com um irritante ar professoral, associou a imigração à insegurança, sem documentar essa relação de causa-efeito.


Num país de emigrantes, que, na década de sessenta do século passado, tanto se escorou nas suas remessas para compensar os gastos no esforço de guerra, pensamentos destes são vesgos e ingratos. Condenar a imigração, num mundo globalizado, é retrógrado. Na sua agenda conservadora, que é bem conhecida, e convém não esquecer, aproximou o PSD do “Chega”. Talvez, intencionalmente, a pensar num futuro mais próximo do que se possa julgar.

Paulo Núncio, vice-presidente do CDS, e número quatro da lista por Lisboa, ex-secretário de Estado dos Assuntos Fiscais, defendeu, num debate promovido pela Federação Portuguesa pela Vida, em tempo de campanha eleitoral, ser necessário limitar o acesso das mulheres ao aborto, através da recuperação das taxas moderadoras, reverter a liberalização da interrupção voluntária da gravidez, com a realização de um novo referendo.

A legislação em vigor é prudente, ponderada, e o tema está pacificamente encerrado na cabeça dos eleitores. Desenterrar este assunto, é próprio de quem não tem nada para falar, além de números. E ser-se conversador não impede que se seja sensato.

Eduardo Oliveira Sousa, antigo presidente da Confederação dos Agricultores de Portugal, cabeça de lista da AD por Santarém, afirmou, num jantar-comício em Ourém, que Portugal tem perdido investimento por “falsas razões climáticas” e admitiu o recurso a “milícias armadas” para evitar os “roubos nos campos”.

Um tiro no pé, dado por quem, porventura muito entendido em batatas de semente e em cebola roxa, não tem qualquer jeito para a política, nem o mínimo sentido de oportunidade, mormente, quando os ventos correm de feição para os ambientalistas.

Três exemplos que ensombraram a campanha do PSD, que parecia ir a correr bem. Cada partido sabe dos activos que possui, e quais vale a pena convidar para animar a populaça embriagada, sedenta de desforra, ávida de poder.

Eu tenho sérias dúvidas de que ir buscar esqueletos ao armário e puxar por antiguidades, traga grandes ganhos. No PSD, e em todos. Mas ele andam aí, e vão aparecer em força, na recta final, saídos dos baús, pavoneando-se, prometendo o azul dos céus, ameaçando com a desgraça.

À margem do festim eleitoral, os lamentáveis episódios da tinta verde sobre Montenegro e do vaso atirado à arruada do PS. Incidentes que envergonham a democracia que, continuo a dizer, apesar dos 50 anos, continua verdinha.

Os detalhes atraiçoam a versão contrária.

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Publicado em Opinião