As oposições, prefiro chamar-lhes assim tal é a disparidade ideológica dos membros da confraria, juntaram-se na táctica do vale tudo, formando uma argamassa precária e de conúbio devasso.
O resultado imediato e recente destas núpcias fedegosas foi o benefício acrescido nos escalões do IRS e o fim do pagamento das portagens nas ex-Scut’s, nada que o contribuinte desdenhe, pois para o seu orçamento tudo importa.
Repetindo-se esta convergência fáctica e contranatura, nos tempos próximos, fazendo aprovar medidas contrárias às propostas do governo, o mais provável é ouvirmos o PM, a vitimizar-se ( já o deu a entender, em modo tímido e iniciático, e Emídio Sousa, secretário de Estado do Ambiente, disse-o ontem, claramente, em Espinho), vociferando contra a mancebia espúria que o impede de governar. E como este povo latino gosta de queixinhas e aprecia músculos salientes e pulsos fortes, talvez obtenha ganho de causa com o truque.
Lembrei-me, a propósito, dos anos de 1986/87, já lá vão 3 décadas e meia, e das poderosas lições que nos devia ter deixado, mas parece-me que não, quando Cavaco, em maioria relativa, virou o país, reclamando contra as “forças de bloqueio” e a quase súplica do “deixem-nos governar.” E no que deu, então, a coligação negativa PS/PRD: 2 maiorias absolutas do PSD e uma longa travessia do deserto dos aventureiros socialistas, que nem o PR, Mário Soares, almejou suster.
Era prudente que, agora, PNS, enquanto líder da oposição, revisitasse o pater familias socialista, e se deixasse de impulsos, sempre desaconselhados em matérias que recomendam ponderação e bom senso, não dando, antes do tempo, argumentos para Montenegro se dizer manietado e impedido na sua função.
Obviamente que as oposições não se devem demitir dos seus poderes nem dos seus programas, mau seria que assim fosse. Mas também é avisado que não se obrigue o executivo a governar com os programas dos outros partidos que não foram sufragados como maioritários, impondo-lhe decisões.
É um equilíbrio difícil de alcançar, eu bem sei, mas os políticos com o seu habitual jogo de cintura conseguem atingi-lo, se o desejarem, e sem ninguém perder a face. É demasiado cedo para as oposições mostrarem as garras e fazerem valer a aritmética dos mandatos.
Imagino que haja muita gente, após perder as prebendas e os pequenos luxos, se sinta desadaptada à sensaborona vidinha de cidadão comum, antecipo que, perdendo por poucochinho, a tentação de regressar seja muita, mas é tempo de pôr gelo nos pulsos, e de os líderes mostrarem a massa de que são feitos.
Se eventualmente houver a pressa de forçar a demissão do governo, o que irá acontecer, nestas precisas circunstâncias, e no meu humilde entendimento, é que o PSD (contando que Montenegro não é consensual, só o cimento do poder colou e calou os descontentes e o seu governo não dá mostras de grande iniciativa nem consistência, anda mole, sem rumo, sem iniciativa, parece uma manta de retalhos mal cosida), descartará o actual PM, fará um congresso e elegerá um novo líder. E o novo eleito será Passos Coelho, que, ansioso por regressar, com facilidade juntará o partido num aplauso sincero, somando com facilidade o CDS e o Chega, numa trindade da direita mais conservadora e taciturna. O produto final será uma maioria absoluta, que os socialistas, desaprendendo a lição de 1987, entregará, de novo, numa bandeja aos sociais-democratas.
É o meu vaticínio, um exercício meramente especulativo, como tantos outros, feito num quadro de incerteza política, tão infantil e leviano que nem parece obra de adultos. Os intelectuais têm uma tendência natural para problematizar as coisas simples, por isso os cenários que traçam saem quase sempre furados.
Cá estaremos para ver no que dão estas urgências, sabendo que, pelas leis da Natureza, as cadelas apressadas parem os filhos malucos.