As Pessoas

Hoje o nosso Ministro da Cultura, Pedro Adão e Silva, secundando Costa, veio dar uma entrevista (Jornal Público) onde reforça essa impressão e afirma, taxativamente, que “a preocupação essencial das pessoas são as condições de vida”. O comentador/sociólogo/ministro, veio dizer-nos o óbvio e espalhar sapiência sobre a amalgama ignorante portuguesa. Louvemos a clarividência e saudemos a benesse que nos foi dada. A verdade nunca fica mal e é de agradecer quando gente esclarecida a revela ou releva.

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  • 16:27 | Terça-feira, 18 de Julho de 2023
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É apenas natural que governantes eleitos, ou mesmo aquele que não foram eleitos, mas escolhidos para governar (o que acontece amiúde com os membros do Governo da República) se sintam legitimados para falar em nome das pessoas. Os eleitos agem, normalmente, em nome dos eleitores e, portanto, é natural que julguem que interpretam melhor os desejos das “pessoas”.

Recentemente temos assistido a trocas de mimos sobre o que as “pessoas” pensam e quais são as suas verdadeiras preocupações. Isto a propósito de mais uma demissão forçada no Governo da República, mais concretamente do Secretário de Estado da Defesa, Marco Capitão Ferreira.

Costa veio afirmar que “as pessoas o abordam na rua e as preocupações que lhe expressam” nada têm a ver com estes “casos e casinhos”, mas com as “suas condições de vida”. Não deixa de ser interessante (e vamos acreditar que o Senhor Primeiro-Ministro está a ser genuinamente sincero) que Costa ache que, na rua, com o PM, o cidadão normal se a ele dirigisse, sem filtros, sem intimidações, para ter conversas longas e filosóficas sobre o estado geral da Nação. Vamos assumir que assim é.


Hoje o nosso Ministro da Cultura, Pedro Adão e Silva, secundando Costa, veio dar uma entrevista (Jornal Público) onde reforça essa impressão e afirma, taxativamente, que “a preocupação essencial das pessoas são as condições de vida”. O comentador/sociólogo/ministro, veio dizer-nos o óbvio e espalhar sapiência sobre a amalgama ignorante portuguesa. Louvemos a clarividência e saudemos a benesse que nos foi dada. A verdade nunca fica mal e é de agradecer quando gente esclarecida a revela ou releva.

 

Mas, parece-me, há um “pequeno” problema nesta narrativa (verdadeira) que advém daquilo a que, há quase 100 anos, foi postulado como a Pirâmide de Maslow. Como é sobejamente conhecido os Homens e a sociedades humanas vivem de acordo com uma hierarquia de necessidades estando na base da pirâmide as fisiológicas (comer, respirar, beber, sexo, dormir, etc.) e, apenas no topo, depois de tantas outras, a estima (onde se insere o respeito pelos outros) e, ainda depois, coisas como a moralidade a ética e coisas desse género.

 

 

 

A narrativa que nos estão a impor (que admitamos ser verdadeira) tem um problema de fundo que é, logicamente, nos dizer também que “as pessoas” – os portugueses (?), estão num estado de desenvolvimento em que ainda precisam de satisfazer as suas necessidades mais básicas e não coisas mais elevadas. Se assim for, se “a preocupação essencial das pessoas forem as condições de vida”, então significa que vivemos num país onde “as pessoas” (admitamos que é a maioria dos portugueses) ainda estão a tentar satisfazer as suas necessidades primárias. Não me parece grande cartão de visita para uma sociedade.

Poderíamos igualmente analisar a coisa por outro prisma, julgando que os portugueses que fazem estas afirmações sobre “as pessoas”, as fazem não se incluindo no grupo daqueles que as elegeram, situando-se numa casta à parte (não necessariamente melhor ou mais privilegiada), diferentes. Não é o caminho mais lógico, naturalmente. Se pertencessem ao grupo das “pessoas” também estes governantes só se preocupariam com o essencial, descurando tudo o resto e, no fundo, teríamos de dizer que, também eles, “pessoas” que são, estavam no Governo a tratar das suas condições de vida e nada mais.

(Fotos DR)

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Publicado em Opinião