“As decisões que concernem à sua própria vida, é melhor tomá-las você mesma” – Petra Kelly
Apresento-vos algumas das minhas fontes de inspiração e conhecimento: Lourdes Bermejo Garcia; Patricia Collins; Sirma Bilge; M. Ángeles Durán; Victoria Campos; Martha C. Nussbaum; Simone de Beauvoire; Ana Freixas; Mirian Goldenberg (…)
Mirian Goldenberg tem um livro, muitíssimo interessante, editado em Portugal, pela Nascente: “Liberdade, Felicidade e que se F*da!”. A autora descobriu, com base nas suas investigações, a curva da felicidade, em formato de U. Que curva será esta? Os estudos revelam que as pessoas mais felizes são as mais jovens e as mais velhas, sendo as mais infelizes e insatisfeitas com a vida, as que se situam na faixa etária entre os 40 e os 50 anos. “Ninguém nasce feliz, torna-se feliz.” Todas as pessoas envelhecem de forma diferente, as velhices são influenciadas por diversos fatores: sociais, económicos, culturais, familiares… Todavia, todas as pessoas podem envelhecer melhor. As mulheres podem envelhecer sendo felizes porque a “felicidade está na nossa essência, dentro de nós.”. Liberdade e felicidade andam de mãos dadas. Sim, há velhas felizes porque aprenderam a dizer não – ligaram o “botão do foda-se”, consideram o tempo o melhor capital, afastam as pessoas tóxicas (“vampiros emocionais”), reconhecem e valorizam a importância das amigas. Estas mulheres olham-se ao espelho e dizem, sem medo e com menos preocupação com os estereótipos e preconceitos relacionados com o envelhecimento, “Velha não é a outra: Velha sou eu!
Todos somos livres de tomar as nossas decisões, mas não ignoremos que “A velhice está inscrita em cada uma de nós, a jovem de hoje é a velha se amanhã.” Os avanços da “ciência da vida longa”, “são investidos milhões na procura de fórmulas para pôr fim aos fardos associados à idade” (Visão, 10/02/2022), não devem reforçar e eternizar o mantra: “O velho é sempre o outro.”
É fundamental assumir o controlo da própria vida, ter um projeto de vida, viver com significado, sonhar, aprender a dizer não, fomentar a autenticidade, iniciar uma etapa de ativismo social. É fundamental que cada mulher se comprometa civicamente, participe nos movimentos de cidadãos e que contribua para a conquista dos seus direitos e liberdades.
Pode ser muito útil somar ao “botão do foda-se”, da Mirian Goldenberg, o “detetor das discriminações” da Ana Freixes: “Convém ter ativado o detetor das discriminações múltiplas com que nos deparamos por sermos mulheres, por sermos velhas, por sermos lésbicas, por não sermos, por sermos de cores. Por ser. Graças a esta aplicação, podemos distinguir entre o amor e o abuso, entre a amabilidade e a coação, entre a formalidade e o desinteresse. Somos velhas, não somo bobas” (Yo Vieja, Capitán Swing, 2021).
A sociedade civil tem muita força e está a movimentar-se. Por estes dias está a ser lançado o movimento, em língua portuguesa, com origem no Brasil: Velhices Cidadãs.
Tod@s contamos! Ao escrever este texto, estou a envelhecer, tal como quem o está, neste preciso momento, a ler. É bom sinal, estamos vivos, não tenhamos medo, assumamos a nossa condição. Reconciliemo-nos com a palavra velh@, “utilizemo-la com tranquilidade, naturalidade e humor. É o único caminho, através do qual podemos colaborar, apagar o estigma e fazer dela uma realidade, tal e como ela é. Todos os eufemismos que possamos utilizar – pessoa idosa, sénior (…) – não somam anos ao cartão de cidadão. A velhice é algo real, não é algo que acontece aos outros. Tratemos de vivê-la bem e confortavelmente com uma certa dose de humor imprescindível.” (Ana Freixas)
A mudança tem que ser feita por cada um de nós, “só assumindo, consciente e plenamente, em todas as fases da vida, que também somos velhas, é que podemos ajudar a desfazer os medos, estereótipos e preconceitos existentes sobre o envelhecimento feminino.” (Mirian Goldenberg)