As equipas de inativação de explosivos da PSP e a coesão territorial

O ostracismo, para não dizer a falta de respeito pelas pessoas do interior, é apanágio do poder central desde sempre. Os anos passam, mas esta insensibilidade para com um conjunto de portugueses não tem meios de abrandar. Não tem cor política. Não tem cor religiosa. Não tem nome. Mas tem ações concretas que deviam envergonhar quem tem poder de decisão.

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  • 14:47 | Quinta-feira, 17 de Setembro de 2020
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É um imperativo nacional lutar contra a desertificação do território. Em nome da solidariedade entre portugueses, deve estar sempre presente que o interior não pode continuar a ser o parente pobre de um Portugal que se quer mais coeso e patriótico.

Não é de agora. O ostracismo, para não dizer a falta de respeito pelas pessoas do interior, é apanágio do poder central desde sempre. Os anos passam, mas esta insensibilidade para com um conjunto de portugueses não tem meios de abrandar. Não tem cor política. Não tem cor religiosa. Não tem nome. Mas tem ações concretas que deviam envergonhar quem tem poder de decisão.

A última decisão vem da Direção Nacional da PSP que pretende retirar das cidades de Mirandela, Viseu, Castelo Branco, Leiria e Beja, as equipas de Inativação de Engenhos Explosivos, para que estes elementos sejam colocados em Lisboa, Porto e Faro.


Não há qualquer ganho numa decisão destas, a não ser o preconceito e a falta de respeito para com os cidadãos que pretendem fazer a sua vida no interior de Portugal, senão vejamos:

1.     Os elementos são exatamente os mesmos, por isso não há ganhos operacionais, nem tão pouco poupança em termos financeiros;

2.     Eventualmente haverá prejuízos financeiros, devido a deslocações maiores a lugares que, com a medida, naturalmente ficam a maiores distâncias;

3.     Fica-se a maiores distâncias das zonas do interior, designadamente as cidades e lugares mais desertificadas, com claro prejuízo para as populações dessas regiões, que mais uma vez são esquecidos e discriminados pelo poder central;

4.     Contraria tudo o que é política de coesão territorial e combate à desertificação, como aliás tem vindo a ser anunciado pelos sucessivos Governos;

5.     Agrava em grande medida um dos maiores flagelos existentes na PSP, que são as transferências dos polícias para os seus locais de origem, com repercussões graves na motivação e desempenho profissional de todo o dispositivo;

6.     Causa prejuízo pessoal muito grave aos elementos que têm já as suas famílias, bem como toda a sua vida pessoal, nos locais onde actualmente prestam serviço.

 

O interior de Portugal e as suas gentes, merecem muito mais respeito dos decisores políticos. Não nos esquecemos que foram os filhos de muitas mães que viviam no interior deste país que morreram na guerra em nome de Portugal, que se sacrificaram em nome de uma pátria, em nome de todos para que esta terra fosse o nosso Portugal. Não pode um país quando precisa das pessoas ir buscá-las para se sacrificarem até com a própria vida e depois votá-las ao abandono, porque já não precisa delas ou precisa menos, ou, como neste caso, é um simples capricho de um qualquer trabalhador de secretaria.

 

Estamos ainda a tempo de reverter esta decisão. Contamos com todos os que sentem a injustiça de se viver no interior de um país que não trata bem os seus residentes. Contamos com todos os que entendem a solidariedade e a coesão territorial como algo que engrandece um país. Contamos por fim com o bom senso de quem tem de decidir, para que não seja ainda maior o fosso entre quem vive nas grandes cidades do litoral e quem vive no interior de Portugal.

 

(Foto DR)

 

 

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Publicado em Opinião