As abelhas têm sido olhadas, apreciadas e avaliadas ao longo da história.
Foram durante muito tempo vistas como símbolo da realeza e do império.
A sua estrutura social tem fascinado os ideólogos que a têm interpretado de forma nada independente.
Napoleão usava um manto vermelho, com abelhas dispersas sobre o mesmo, aquando da sua coroação.
Há mesmo quem afirme que já no século quarto aC, Platão propunha construir cidades à imagem das colmeias e que isso inspirou a sua obra “República”.
No século XVI, na Inglaterra, a organização social das abelhas e dos humanos eram alvo de comparações. Havia admiração na organização social das abelhas que era vista como uma monarquia hierarquizada com divisão do trabalho.
No princípio do século XVII, também na Inglaterra, a abelha é envolvida na contestação a uma monarquia moralista pelos que defendem o individual num verdadeiro manifesto liberal.
Antes os seus membros eram egoístas, mas havia progresso, mas depois a colmeia definhou, muitos dos seus membros fugiram e tornam-na frágil.
Em França, depois da Revolução Francesa, os estudiosos passaram a referir-se à organização das abelhas na colmeia como repúblicas. Mas a clara diferenciação entre as abelhas operárias e a rainha levava a que o seu sistema social fosse considerado atrasado e retrógrado. Tais características eram contrárias ao ideário iluminista vigente e olhava as abelhas como seres injustos.
No princípio do século XX, um naturista francês falava de um equívoco quanto à classificação da organização social das abelhas como monarquia.
Alegava que o domínio da colmeia não seria feito pela rainha que antes seria uma escrava totalmente dedicada à função reprodutiva. E que quando deixa de estar apta para a função é morta e substituída por outra, jovem e capaz por ação deliberada das operárias.
Mas as abelhas operárias também sofrem e exasperam com o trabalho que lhes cabe, seja de alimentar as larvas, seja de limpeza da colmeia, seja de guarda e segurança ou seja de recolha de pólen, água ou resinas. E quando incapazes para a função, encaminham-se voluntariamente para a morte ou são expulsas da comunidade, morrendo.
Donde conclui que a Colmeia é coletivamente inteligente, mas, individualmente, os seus membros não o são, fazendo só o que lhes é ordenado.
Assim as Colmeias seriam exemplo de um coletivismo sem individualidade.
Com o avançar do século XX as abelhas deixam de ser termo de comparação com os humanos. Donde deixa de haver correspondência entre a organização social de umas e de outros.
Podemos, pois, olhar para as formas como ao longo de séculos se olhou para as abelhas como manipulação ao serviço de quem as construía.
Nada de novo afinal.
Para um defensor da monarquia absoluta a colmeia é composta por uma estrutura piramidal que legitima o poder absoluto.
Já o partidário de uma monarquia constitucional alega que a rainha só reina se e enquanto as abelhas operárias a considerem apta e capaz.
Mesmo os anarquistas olham a colmeia como o exemplo da sua sociedade onde cada indivíduo, sem se inquietar se faz mais ou menos que a sua tarefa, faz o seu trabalho, recebe o salário e descansa sem invejas.
Pelo que entendem que as abelhas recusam toda a autoridade, sobretudo se esta é estática.
No século XX a luta entre marxistas e liberais tem uma pausa ao ser feita, objetivamente, uma aliança que afasta as abelhas da luta ideológica.
Mas a abelha, na verdade, não precisa do homem para ser um animal político.
No interior da colmeia são as operárias que escolhem as rainhas, ao alimentarem com geleia real várias larvas.
A primeira a nascer levará a cabo o assassinato político das rivais.
E fará um golpe de estado ao forçar a rainha “reinante” a abandonar a colmeia com as abelhas que lhe continuam fiéis.
Este enxame irá escolher o seu novo lar de entre as sugestões apresentadas pelas batedoras. E a escolha resultará de um consenso obtido num voo/dança que vai juntando abelhas (qual voto em assembleia geral) que levará a totalidade do enxame para o novo local sem que alguma abandone o grupo respeitando assim a vontade da maioria.
Quer se queira, quer não, a abelha afinal é um ser político.