Conheci o trabalho da Ana Verónica através das oficinas que dinamizou, no âmbito dos Jardins Efémeros, com as crianças das Obras Sociais de Viseu. Gostei do traço, do jogo de cores e da sensibilidade da artista na relação com as crianças. Convidámo-la para ilustrar a capa da 2.ª edição da Revista das Obras Sociais Viseu[1]. Aceitou o desafio, o resultado foi muito positivo. É bom encontrar pessoas que compreendem os nossos objetivos e partilham connosco caminhos, com distintas linguagens. A Verónica ilustrou também o calendário “8 e 80”, criou a família da Ida e colaborou na conceção de uma ferramenta que nos (Movimento Stop Idadismo) permite trabalhar nas escolas o combate ao idadismo, o preconceito que tem a sua raiz na idade, o terceiro preconceito, que mais afeta as pessoas, depois do racismo e do sexismo. Está também a colaborar no desenvolvimento do “Mural dos Afetos”, do qual falarei por estes dias…
Não poderia faltar à apresentação do Projeto Trama[2] que trabalha sobre a valorização do artesanato representativo de Viseu, cruzando histórias, materiais e ideias para o desenvolvimento de novos produtos.
Não sou conhecedor nem especial apreciador de artesanato. Como aprecio o trabalho da Verónica e perspetivava-se a revitalização das técnicas artesanais da região de Viseu e a criação novas obras de autoria da designer, voltei à Quinta da Cruz.
Fui surpreendido pelo carácter inovador das peças expostas que resultam de uma interessante mescla entre a tradição dos artesãos e a inovação da designer. Não sou crítico de arte, nem coisa que se pareça. Mas, como diz um amigo, conhecedor do mundo dos vinhos, prova-se e gosta-se ou não se gosta. Fui, vi, “provei” e gostei. “Somos um projeto de afetos e por isso trabalharmos a luz nas técnicas artesanais, aquece-nos. (…) Queremos trabalhar sobre a valorização destas memórias no mundo contemporâneo)” (Ana Verónica, março de 2022).
Foi muito feliz o encontro das artesãs e artesãos com a designer na conceção de novos produtos que foram beber às raízes das técnicas artesanais do linho da Várzea de Calde; da Cestaria; Flores dos Namorados; Bordados de Tibaldinho; Rendas de Bilros.
A Moldávia declarou a independência da então URSS, em 1991. Face à agressão russa à vizinha Ucrânia, “A Moldávia sustém a respiração” (Euronews, 25/03/2022), muitos moldavos temem que a sua pátria seja o próximo alvo. O medo e a ansiedade estão a apoderar-se do país mais pobre da Europa. A Moldávia tem encetado esforços com o intuito de aderir à União Europeia. Na visita à exposição fixei o olhar no trabalho da Iulia Lazari, 8.º ano, da Escola Secundária de Cahul, intitulado “O Mundo à volta da criança”. Se, em 2006, a aluna não registou um mundo propriamente amigável, como o verá hoje com o conflito no país vizinho e receio de que este possa vir a expandir-se?
Três boas razões, além do fantástico espaço exterior, que também conta com instalações artísticas, para fazer uma visita à Quinta da Cruz, em Viseu.
[1] https://obrassociaisviseu.pt/revista-2/
[2] https://projectotrama.com/