Ainda votas?
A abstenção cresce de eleição para eleição. O afastamento dos cidadãos da vida política e a imagem negativa que tem sido construída dos políticos é uma tendência cada vez mais evidente. A descrença nas promessas eleitorais que caem por terra, umas atrás das outras, assim que se assumem as rédeas do poder, afasta os cidadãos […]
A abstenção cresce de eleição para eleição. O afastamento dos cidadãos da vida política e a imagem negativa que tem sido construída dos políticos é uma tendência cada vez mais evidente. A descrença nas promessas eleitorais que caem por terra, umas atrás das outras, assim que se assumem as rédeas do poder, afasta os cidadãos dos atos eleitorais que determinam o seu futuro.
As eleições europeias estão a chegar. Há 16 candidaturas aceites. Há alguns candidatos de qualidade. Há ideias para discutir. Seria suposto haver um debate profícuo de ideias e de propostas… Na prática, estas eleições poderão transformar-se num cartão vermelho aos partidos do arco do poder. Desde logo, o aumento da abstenção promete ser vertiginoso. É igualmente preocupante a previsão de os partidos extremistas celebrarem o aumento do seu poder.
O euroceticismo, o nacionalismo e o chauvinismo arregimentam os descontentes que não acreditam no modelo vigente. A crise, o desemprego e a emigração alimentam o descontentamento. Não resisto, a propósito do fenómeno da emigração, de referir que foram encontrados dois corpos de emigrantes, no fundo do mar, junto a Lampedusa, abraçados. São imigrantes, ilegais, frágeis? Sim. São humanos, detentores de sentimentos e têm direito à vida? Sim!
Voltando ao ponto, a discussão não se está a fazer, a campanha está morna e os debates televisivos, devido à interpretação e aplicação literal da Comissão Nacional de Eleições (CNE) do principio da igualdade, não ocorrerão. Mais um contributo para o desinteresse dos eleitores. Desinteresse agravado pela incapacidade latente de as distintas candidaturas oferecerem soluções alternativas.
Fico com a sensação de que o ato eleitoral que se avizinha servirá de antecâmara para as eleições legislativas. Estamos a desperdiçar uma vez mais uma oportunidade de ouro para fazer uma discussão construtiva em torno do projeto europeu e do posicionamento estratégico de Portugal. Se não há vontade (porque acredito que há capacidade) de discutir o euro, as instituições europeias e as relações entre os estados da união neste momento, quando o quereremos fazer?
Não nos esqueçamos que estivemos, durante três anos, debaixo das regras da assistência financeira, subjugados e relegados para a condição vexatória de protectorado.
Os sinais continuam a ser maus. Os grandes destaques da semana foram: i) a possibilidade de José Sócrates fazer campanha; ii) O desligar do relógio da saída da Troika na sede ao CDS; a admissão de Passos Coelho de uma putativa coligação com o PS de António José Seguro…
Ainda há tempo para inverter o estado comatoso da campanha, os portugueses merecem que seja feito esse esforço e a Europa não pode continuar intermitente a assistir ao crescimento de extremismos que trazem à colação muitos dos fantasma europeus… A PRIMEIRA GUERRA MUNDIAL FOI APENAS HÁ 100 ANOS…
Preocupa-me a repetição da pergunta: “AINDA VOTAS?”