Ainda sou do tempo em que havia quatro estações do ano, muito bem definidas na meteorologia e no calendário. Na escola, aprendíamos a designação e as datas de cor e salteado, que eram fáceis de fixar, comparadas com os nomes dos reis, dos rios, das serras e das linhas de caminhos de ferro de Portugal Continental, Insular e Ultramarino, que tínhamos de decorar.
Se falhássemos, lá nos esperava o professor Martins Pereira para nos assanhar as orelhas. No meu caso, a senhora minha Mãe reforçava as aprendizagens/decoranços.
A estação de que mais gosto é esta, o Outono.
Gosto do chão coberto de folhas tombadas, das árvores despidas, da indefinição do tempo, ora quente, ora frio, dos dias mais pequenos, do sol tímido e fugidio, dos ventos que se começam a zangar, dos agasalhos que se vão buscar à arca e que apetece vestir, dos paus do lume que tenho vontade de acender, do aconchego de uma manta sobre os joelhos.
E gosto do tom cinzento que cobre os dias, tornando-os densos, sombrios e misteriosos. Gosto do fresco que me dá arrepios.
O Outono dá-me conforto e casa.
Ser-se outonal é ser-se um pouco cinzento, triste, sorumbático, melancólico, dado a humores instáveis, a altos e baixos.
Sou mesmo tempo assim, produto do tempo. E sinto-me bem.
Contudo, depois de ver tanta gente a igualar cinzentismo e neutralidade, e ao ler Dante, preocupei-me seriamente.
O escritor florentino dizia que “No inferno, os lugares mais quentes são reservados àqueles que escolheram a neutralidade em tempo de crise’.
Com aquela por que já passámos e por esta que estamos a passar, rejeito a equivalência, por certo desajeitada.
Não com medo de me escaldar, mas por convicção.
Tenham um bom fim de semana. De Outono.