O artigo de opinião saído no jornal o Público de hoje, da autoria de Maria José Fernandes, Procuradora-geral-adjunta e inspectora do MP, é no mínimo polémico e corajoso.
A autora parte de uma interrogação para a sua argumentação: “Como foi possível acontecer tudo aquilo a que assistimos na semana passada?” e acrescenta, para evidenciar não só o absurdo do ocorrido como também para indicar quem, politicamente tira proveito destas atitudes: “Uma coisa é certa: ver um político populista de extrema-direita monopolizar a defesa da atuação do MP dá muito que pensar!”
Também não deixa de parte a crítica ao sindicato (SMMP) naquilo que a classe pretende alcançar em termos de “maior autonomia individual dos procuradores nas decisões que tomassem”.
Sobre a relação de procuradores do MP com a CS é taxativa: “As personagens aludidas granjearam assim a simpatia e até quase camaradagem (em congressos) de certo jornalismo que segue as peripécias de corrupção atribuída a políticos e que tem a militância de deixar Portugal bem colocado nos rankings internacionais da percepção desse flagelo. Desta sorte, procuradores que não hesitem em meios de recolha de prova intrusivos, humilhantes, necessários ou não, são o tops da competência.”
Criticar o MP de fora para dentro, no corporativismo daquela instituição será sempre visto como um acto de lesa majestade. Contudo, quando a crítica vem de dentro e de alguém que é Procuradora-geral adjunta e inspectora que avalia os procuradores no cômputo da sua acção profissional, a “coisa chia mais fino”.
Ademais, perante o esfíngico silêncio da PG, Lucília Gago, de quem dizia há dias um jornalista, creio que Paulo Baldaia, “não se lhe conhecer a voz”.