Esta é uma daquelas temáticas, não a única, que deveria merecer uma especial atenção por parte dos principais responsáveis da região. Refiro-me ao aeródromo municipal Gonçalves Lobato, de Viseu, infraestrutura que, pese embora pertencente à autarquia viseense, deve ser olhada como de elevado interesse estratégico supramunicipal.
Não vou falar de todas as vertentes ali instaladas, nem sequer da vastidão de potencial que esta estrutura encerra, vou tão só deter-me sobre as questões do transporte aéreo de passageiros.
Bem sei que Portugal é um país de reduzida dimensão. Bem sei que o aeroporto Sá Carneiro está a uma hora e meia de Viseu. Mas também sei que existe um nicho de mercado, com base em Viseu (chegada ou partida), de viagens para o Algarve, ou para Lisboa, ou para a Europa, sobretudo para aquela Europa onde a emigração da região mais se concentra. Igualmente, sei que Viseu pode oferecer taxas de exploração aeroportuárias muito mais baixas do que os aeroportos internacionais. E ainda sei que há cada vez mais pessoas, de diversas origens, com disponibilidade para se deslocarem, para a grande região centro e norte interior, de avião, por motivos empresariais, turísticos ou de puro ócio. Incluo aqui a região duriense, ou a serra da Estrela, ou Aveiro, ou Coimbra, ou a região raiana, todas elas hoje bem servidas a partir de Viseu, em termos rodoviários (as exceções são Coimbra, em fase de resolução, e a Estrela, onde o IC 37 ainda é uma miragem).
E é aqui, nesta excelente centralidade viseense, que a questão se coloca. E por isso, a infraestrutura aeroportuária de Viseu merece ser olhada, por todos, autarcas, políticos com mandatos conferidos em Viseu, empresários e forças vivas em geral, como uma ferramenta fundamental para acrescentar desenvolvimento e dinamismo empresarial a toda esta vasta região. A centralidade é o que é, ou se tem ou não se tem, e, por mais voltas que se deem, Viseu ganha a qualquer outra das áreas envolventes.
O potencial instalado no território existe. Seja paisagem, património, infraestruturas hoteleiras, resorts, equipamentos desportivos de qualidade internacional (canoagem e golfe, p.e.), gastronomia, vinhos, algumas indústrias de referência, feiras e festividades, grupos culturais de grande magnitude, museus, património imaterial…
E para além deste potencial, que gera fluxos de pessoas por via aérea, há também milhares e milhares de emigrantes deste território que, trabalhando na Suíça, Alemanha, França ou outro, ganharam o hábito de viajar de avião. E se Viseu lhes oferecer voos, em algumas épocas do ano, não irão, certamente, para o Porto.
E Viseu pode oferecer no futuro respostas aéreas para este potencial mercado? Claro que pode. Unam-se as vontades e o problema será superado.
O interesse deverá ser do poder e instituições locais e regionais, como deverá também ser do próprio governo, que se não deve alhear de uma solução para este problema. Chega de discursos sobre o interior, vamos lá a dar contributos concretos para a sua resolução.
O comprimento da pista, que hoje é o óbice à aterragem de aviões de maior dimensão, até nem será grande problema. Porventura, será, até, o menos complicado. Ela já lá está, não é a atual Sul>Norte (essa está bloqueada a norte por uma aldeia e a sul por um enorme declive) mas será SW>NE, ou seja ela assentaria em toda aquela reta, plana, que dá hoje acesso ao aeródromo (Rua Barbeito) com prolongamento para dentro do aeródromo. Basta olharmos para a fotomontagem que encima este texto. Isto não é uma inovação nossa, a situação está por demais estudada!
Portanto, se o potencial mercado existe, se a ampliação da infraestrutura não é problema complexo, vamos em frente. Deixemo-nos de olhar para o minifúndio e, neste caso, pensemos mais além, pois quem ganhará será o emprego, a economia da região e, afinal, as pessoas.