No cenário que o País atravessa nada mais restava ao executivo senão a opção tomada do cancelamento da Feira de São Mateus, porque ninguém aceitaria colocar em risco a saúde pública num evento de massas, embora não seja o mítico milhão que todos os anos o marido da directora da Viseu Marca teima em nos vender.
É facto que muitos milhares, felizmente, passam por este evento reconhecido, mas neste contexto da possibilidade de propagação do Coronavirus, quer os emigrantes quer os visitantes, os feirantes ou os artistas vindos dos vários cantos do País e do Mundo poderiam ser os vectores de um contágio comunitário elevado, e sem forma de controlar todas as variáveis do ponto de vista da segurança e da saúde não há como contornar a solução tomada, a não ser que o executivo fosse tão irresponsável como os camaradas da CGTP ou do PCP.
É facto que podemos chegar ao período em que a Feira ocorreria e termos a certeza de que foi um erro adiar a mesma, é bom sinal até que isso aconteça, mas de nada adiantará chorar sobre leite derramado, há sim, que aproveitar a pausa para reflectir sobre o evento e planear o seu arranque no próximo ano com mais pujança e maior envolvência.
Não me refiro ao plano B desenhado para alimentar o séquito dos amigos mantendo o povo entretido com papas e bolos mas sim um plano C desenhado com a opinião dos viseenses, com o interesse dos feirantes, com a participação da sociedade civil viseense numa perspectiva sustentável e sustentada do evento.
É inegável que a Feira melhorou em inúmeros aspectos, na higiene do espaço, na imagem e organização, na qualidade do programa, no número de visitantes e no volume de negócios que representa para a economia local, mas o que ganhou em tudo isto não foi acompanhado, na minha modesta opinião, na tradição e ruralidade que deve também melhorar e manter. Vamos por partes, para já no curto prazo importa resolver a vida dos que tudo perderam com o cancelamento da Feira este ano.
Para não me repetir mais que o necessário e do que aqui já exprimi nesta Rua Direita é fundamental tomar medidas de apoio aos feirantes, que podem ir desde o financiamento a taxa zero, com uma cedência de 20% a fundo perdido com o compromisso por garantia de que até 2021 a empresa não dispensaria nenhum dos seus funcionários, até à autorização aos restaurantes da Feira que durante a época estival pudessem estar abertos ao público respeitando as regras sanitárias da DGS e usando o espaço exterior para a colocação de mesas com distanciamento social, podendo no período também funcionar como local de cinema ao ar livre ou de pequenos eventos onde fosse possível manter a segurança sanitária sem para isso ter que impedir ou condicionar a liberdade dos munícipes.
No médio prazo repensar as “Festas de São Mateus”, a decorrer no período da Feira de São Mateus, não se esgotando nesta, mas tendo-a como evento central, de forma rejuvenescida. Este novo conceito deveria seguir como linhas principais as seguintes:
– As Festas de São Mateus serão um grande certame multidimensional, com um conjunto diversificado de eventos e manifestações culturais de projecção nacional e ibérica; nelas se inscreve a Feira de São Mateus propriamente dita, a encerrar no dia 21 de Setembro e a Feira da Agricultura do Dão a realizar na primeira semana de Outubro. A introdução na programação das diversas artes que vão desde a dança, o teatro, o teatro infantil, o teatro de rua ou de marionetas, as exposições temáticas (de gravura, BD, escultura, etc. e se não for possível anualmente, que seja em formato bianual) tornam o evento um ponto de encontro de nível nacional com possível atração de visitantes da zona raiana ou de Espanha.
– A organização e a programação das Festas serão conduzidas através da celebração de protocolos de parceria com as instituições culturais, públicas e privadas, regionais e nacionais com prioridade para as da região.
– Não é de descartar, convites a instituições internacionais para a curadoria de uma área para divulgação da cultura representativa de um determinado País, isto reforçaria a excelência e cosmopolitismo do espaço, o sentido de curiosidade dos visitantes bem como o tempo de permanência no recinto.
– A programação de qualidade que a Feira já tem deverá ser melhorada com um nome internacional de cartaz, tendo como pressuposto que a organização das Festas desenvolva também parcerias e relações de patrocínio e apoio institucional com as maiores empresas regionais e nacionais.
– A Feira deverá dar prioridade às empresas da região e no Pavilhão conduzir variadas temáticas durante o período alongado do evento que deverá seguir um critério de alocar espaço para 70% das empresas locais, 20% da região e 10% nacionais ou internacionais. Já a Feira da Agricultura servirá para promover os produtos regionais (o vinho do Dão, a gastronomia, o artesanato) junto de novos públicos, mais exigentes e capazes de amplificar a reputação desses produtos em todo o país e no estrangeiro, bem como todas as actividades relacionadas com a agricultura, incluindo a fileira da floresta e a vertente pecuária, bem como arte equestre nacional representada na Ovibeja ou na feira da Golegã.
– Recuperar a tradição de Feira Franca alargando o número de dias em que a entrada no recinto será gratuita.
– Manter o marketing identitário criado à volta do evento, mas associar-lhe maior peso na sua genuinidade, recuperar a sua autenticidade e ruralidade trazendo mais o concelho para dentro da Feira, sendo também uma vertente de promoção da iniciativa e inovação económicas, através de momentos de divulgação tecnológica, de mostras em que se partilhem experiências e contactos sobre novas oportunidades de negócios.
As Festas de São Mateus terão que ser um veículo de atracção de investimento, negócios e criação de emprego em quantidade e qualidade, coisa que nenhum dos sócios da Viseu Marca tem sido, nem o município para quem a Feira é um momento de promoção pessoal e de afirmação das suas políticas partidárias nem a AIRV que ao longo de mais de 20 anos com o mesmo empresário à frente trouxe uma única empresa de referência para a região e mais nenhum emprego criou além daqueles para os seus assessores responsáveis por garantir os fundos comunitários para os alinhados do sistema.
É tempo de aproveitar a pausa e repensar o modelo com uma única certeza no meio de tantas incertezas das quais todos os dias somos informados, a certeza de que com estes não chegaremos a lugar diferente, foram os que nos trouxeram até aqui, mas daqui não sabem como sair.
Estão confinados há muitos anos no Rossio. Os viseenses precisam de ganhar imunidade a esta incompetente gestão. A vacina chega em 2021.