A moção de censura apresentada pelo Chega foi um momento pífio, correspondendo ao que já se previa. De efeito nulo, serviu apenas para comprometer o PSD, no que à política de alianças diz respeito, e obrigar Montenegro à sua exclusão de futuras caminhadas conjuntas.
Do debate, retira-se a garantia dada pelo PM de o salário mínimo nacional não ser tributado em sede de IRS, contrariando Fernando Medina e pondo o comboio no carril, e a velha questão da TAP, matéria em que António Costa se mostrou aberto à sua privatização a 100%.
Em 2014, era contra a privatização, um ano depois defendia que 51% devia ser capital público, sendo o Estado maioritário, no ano seguinte era a favor de uma repartição igual do capital público e privado. Em três anos, três posições diversas, até antagónicas. Em 2020, evoluiu para uma companhia totalmente pública e agora, no debate, mostrou-se a favor da privatização integral, exactamente o oposto do que defendera três anos antes.
Sabendo que só os burros é que não mudam, e que alterar posições é muitas vezes sinónimo de perspicácia e de acomodação a novas circunstâncias e realidades, convenhamos que, em nove anos, ter cinco posições diferentes sobre o mesmo problema é muito para um homem só. Principalmente, quando esse homem é o PM, que é suposto ter uma estratégia de governação, fundada numa visão para o país, alicerçada em estudos sérios e em números sólidos, elencados por especialistas. Às vezes, mais parece atirar hipóteses propositadamente para a praça pública para ver a que mais simpatias colhe.
Os constantes ziguezagues retiram confiabilidade à opinião da passada semana, que poderá não ser a última, dado o histórico pouco abonatório, no que à matéria tão sensível diz respeito, e não são muito positivos para os mercados, que preferem estabilidade e certeza de posições da parte dialogante.
Pela minha parte, escaldado, e não a desejando, vou esperando pela sexta solução, que ainda não foi equacionada.
(Foto DR)