A primeira novena que fiz à Sra da Lapa teria cinco anos e deveu-se a uma promessa que a minha avó Maria fez por o seu filho Diamantino não ter sucumbido pelas terras de Angola.
Dizia-se naquele tempo que a guerra era mais guerra por estas bandas e pela Guiné, por isso não era de estranhar que uma mãe se agarrasse a todos os Santos e Santas da sua devoção.
Atrevo-me a afirmar que a minha avó levou uma boa parte da sua vida a pagar as promessas, tantas elas eram.
Mas voltemos à Sra. da Lapa e àquela novena que recordo como se tivessem sido as primeiras férias da minha vida. Lá vamos todos, filhos, filhas, noras, genros e netos que a promessa era grande e todos tinham que ajudar a pagar. Ficamos alojados numa casita de apenas duas divisões, numa mais ampla onde todos dormíamos na palha coberta com cobertores e mantas e noutra mais pequena e com uma pilheira onde se preparavam as refeições.
Durante aqueles nove dias não se fazia mais nada senão dormir, rezar e comer! Que bom era aquele caldo feito no pote e as batatas com enguias de barril! Que bom era dormir no meio dos adultos que nos afastavam os fantasmas que povoavam os nossos sonhos de criança! Que bom era fazer a novena á volta da capela entoando cânticos em honra de Nossa Senhora!
Que bom foi o meu padrinho ter regressado são e salvo de uma guerra que nunca entendi…
Ondina Freixo