Simone Biles, ginasta americana, e uma das melhores de todos os tempos, especializada na modalidade de ginástica artística, bateu com a porta. E com estrondo. Um elefante numa loja de porcelanas não faria melhor. Abdicou da defesa do título, conquistado no Brasil, para se focar em si e na sua saúde mental.
As grandes marcas, os altos patrocínios, a luta pelas medalhas, a intensidade e dureza dos treinos, os milhões envolvidos nas disputas obrigam os concorrentes a grandes concentrações mentais e psicológicas e sujeitam-nos a altos níveis de stress. São máquinas viradas para os resultados, escravos dos recordes.
Esquecendo-se que não são deuses, a indústria desportiva explora as capacidades dos atletas, até ao limite. Alguns não aguentam e descem da fama ao inferno, num esfregar de olhos. A obrigação de ganhar, o medo de falhar podem distorcer os níveis de competitividade e as prestações individuais.
Simone teve o mérito de alertar para a fragilidade da condição humana que vence qualquer tentativa de atingir a perfeição plena. A saúde mental, fruto das circunstâncias vividas, não é valorizada. Com o gesto, Simone falou por muitos que não têm o estatuto que permita falar claro e pôr as coisas a nu. Despreocupadamente, sacudiu as medalhas e agitou o circo. O rei, afinal, vai mesmo nu. Já não é só história.
(Fotos DR)