A saúde está doente

Aos que podem, valerão os privados, para onde migram muitos profissionais do SNS, seduzidos por condições mais atractivas. Entretanto, os dois lados, na defesa dos seus interesses, esticam a corda, na esperança de algum fumo branco. O ministro diz não ter margem de manobra para actuar nesta situação delicada, e o bastonário afirma nunca "ter visto nada assim" e que o conflito "pode correr muito mal".

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  • 15:33 | Segunda-feira, 02 de Outubro de 2023
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A habitação e a saúde ameaçam tornar-se o calcanhar de Aquiles deste governo de maioria absoluta.

A recusa generalizada e irredutível dos médicos em fazer mais do que as 150 horas extraordinárias por ano, previstas na lei, ameaça seriamente o funcionamento dos hospitais e pôr as urgências num caos. Alguns, seis, por dificuldade na elaboração das escalas, já encerraram no recente fim de semana, e a situação tende a um agravamento, com o movimento dos médicos a alastrar-se. E, segundo a Ordem dos Médicos, serão 25 os hospitais que, nos próximos meses, não terão condições para assegurar diversos serviços, nomeadamente de medicina interna, cirurgia, pediatria, cardiologia e cuidados intensivos.

É uma densa nuvem negra que ameaça o futuro próximo, se nada for feito para quebrar este braço de ferro.


Reportando a 2015, ano de entrada em funções do governo socialista, e comparando com 2022, houve um indiscutível reforço no orçamento (de 9 M para 14.9 M) e nos recursos, profissionais de saúde (119 mil para 150 mil).

Pese embora este crescimento, o número de utentes sem médico de família passou de 1M para 1.6 M e as listas de espera para cirurgia cresceu de 197 mil para 249 mil. Esta realidade significa que não basta atirar dinheiro para cima dos problemas para que eles se resolvam, e que o SNS é bom para quem já está nas unidades de saúde, a contar com bons médicos e bons equipamentos, mas o acesso aos cuidados de saúde é péssimo.

 

 

Talvez a actualização salarial, as regras de progressão na carreira, melhorias na alocação de recursos e na organização e funcionamento dos hospitais, melhorem o panorama sombrio que hoje envolve este sector nevrálgico do nosso país.

Aos que podem, valerão os privados, para onde migram muitos profissionais do SNS, seduzidos por condições mais atractivas. Entretanto, os dois lados, na defesa dos seus interesses, esticam a corda, na esperança de algum fumo branco. O ministro diz não ter margem de manobra para actuar nesta situação delicada, e o bastonário afirma nunca “ter visto nada assim” e que o conflito “pode correr muito mal”.

Aqui chegados, impõe-se, de ambas as partes, um espírito dialogante consequente, e um verdadeiro interesse do governo em atender as reivindicações da classe, quiçá pensar num pacto de regime, sob pena de a saúde, a curto prazo, se tornar um inferno, com sérios prejuízos na vida de todos e cada um de nós. Sendo as contas certas, um crédito do governo, é bom não esquecer que há mais vida para além delas.

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Publicado em Opinião