Por vezes é um exercício interessante ir à etimologia, ou estudo da origem das palavras, em busca de uma explicação do significado real, não deixando de lado a evolução de certos conceitos e palavras que levam frequentemente ao afastamento do étimo original e do seu primitivo sentido.
A palavra “religião” é uma delas. Re+ ligare, ou seja o prefixo de intensificação seguido de ligare que significa ligar, atar, unir… Mais tarde religio significou, de forma algo semanticamente extrapolativa, ”louvor e reverência aos deuses”.
O homem, em geral, na sua insignificância, ignorância e crendice, aceitou o(s) deus(es) como entidades de protecção e de explicação do real incompreensível.
A religião ou as religiões seriam, assim e grosso modo, algo que serviria para unir o homem, a humanidade, fundamento de uma ou mais crenças baseada(s) na fraternidade, no amor ao próximo, na igualdade entre os homens… Logo, a religião, qualquer que ela seja, qualquer que seja o Deus venerado, é para os seus cultores algo de positivo, de bom, com base na compreensão, na aceitação do outro e nas diferenças entre os seus semelhantes.
E porém, há milénios que a(s) religião(ões) têm servido de magno pretexto ao homem, para semear o ódio, a violência, para dividir ao invés de unir, para destruir, aniquilar, roubar, enriquecer, matar…
No fundo, queremos crer que todas as religiões, independentemente de origens e pressupostos, são benignas e essenciais para todos aqueles que não se cingem a um racional ateísmo e/ou agnosticismo.
Infeliz e lastimavelmente, a religião ou as religiões têm sido o mais poderoso substracto ideológico que suporta, desvirtuadamente da(s) sua(s) essência(s), a barbárie humana. Justificando mesmo e em seu nome o genocídio de milhões de seres humanos.
A religião deixou de “ligar” para se assumir como o mais eficaz princípio de desunião, de separação, de divisão da desumanizada humanidade…