João Pratas, presidente da Associação Portuguesa de Fundos de Investimento, Pensões e Património, apenas um, até agora, diligente representante de um conjunto de financeiras, resolveu sair da mina e fazer prova de vida. Pegou numa granada e lançou-a para o meio da assembleia geral dos pensionistas e reformados.
A polémica desencadeada pela sua desastrada tese sobre as pensões, fê-lo saltar da condição de português anónimo e cinzento, fato que lhe assentava na perfeição. Em vez de ficar no seu canto, desbocou-se, alvitrando que os reformados têm de ganhar menos para garantir a sustentabilidade da Segurança Social. Disposto a não deixar pedra sobre pedra, disparou sobre os políticos, dizendo que “isto é uma coisa que nenhum político vai dizer”.
Em época natalícia, saiu-nos a fava no bolo-rei, mais um burocrata que só vê números à frente e tem como certo que a vida é um livro de contabilidade. Está visto que o seu mundo se reduz a uma folha de Excel. Não há meio de nos vermos livres desta praga, epígonos do Diabo, aves agoirentas que se entretêm a traçar futuros negros, a antecipar indigência e miséria.
De vez em quando, aparece das trevas uma luminária assim, ocupando espaço na comunicação social, dando cabo do moral de milhões de concidadãos velhos ou que para lá caminham. Depois de fazer o estrago, calca os desperdícios, e afasta-se de mansinho, deixando um rasto de dúvida e de incerteza. Angústia é o que os idosos mais dispensam. E pobreza, que afecta tantos de muitos, mas que o sr. Pratas parece acreditar que se evita com umas centenas de euros mensais, por certo uma ínfima parte do seu chorudo vencimento. Cabe perguntar se o dito senhor tem alguma pasta governamental. Se gere alguma coisa pública. Se tem poder de decisão sobre o dia-a-dia das nossas vidas. Não! Mas, mesmo assim, não se coíbe de dizer umas papagaiadas.
A banca, as seguradoras, as gasolineiras, as energias, as operadoras de telecomunicações, os fundos de investimento, esses continuam, sem escrúpulos, a agitar as massas, a ir-lhes ao bolso, a incomodar o sossego dos que precisam de paz.
Podia ter-se focado nas pensões dos altos quadros do Estado, dos administradores das empresas públicas e participadas, e das acima citadas. E nas reformas acima do vencimento do Presidente da República. Aposto que, para si, estes personagens sejam intocáveis, mas só nessa operação cirúrgica teria grandes ganhos. Porém, alimentar essa esperança seria demais. Não tem perfil de Robin Hood. Preferiu generalizar, não excluindo ninguém da sua solução destrutiva e arrasadora. Este sujeito é um “bulldozer”.
E se, em vez de malhar sempre nos mesmos, propusesse mudar o modelo económico? Se aquelas empresas pagassem mais taxas e impostos, diminuindo os seus lucros obscenos e faraónicos? Se a economia fosse mais competitiva, com melhores salários e sem desemprego? Se não houvesse tanta precariedade no emprego? Se se estancasse a emigração de população activa? Se a economia paralela não tivesse tanto peso?
O golpe perfeito.