“A paz, o pão, habitação, saúde, educação”
Sérgio Godinho, no álbum Liberdade cantarolou: “Só há liberdade a sério quando houver a paz, o pão, habitação, saúde, educação“. Recordo-me de duas máximas populares que conjugam o pão e a educação: “A educação é tão precisa como o pão para a boca” e “Quem dá o pão, dá a educação”. Quem tem fome não […]
Sérgio Godinho, no álbum Liberdade cantarolou: “Só há liberdade a sério quando houver a paz, o pão, habitação, saúde, educação“. Recordo-me de duas máximas populares que conjugam o pão e a educação: “A educação é tão precisa como o pão para a boca” e “Quem dá o pão, dá a educação”. Quem tem fome não aprende, basta observar os princípios da Teoria de Maslow que estabelece a hierarquia das necessidades humanas. Para a realização das suas necessidades, o homem terá de “escalar” as diversas hierarquias: 1) fisiologia; 2) segurança 3) amor / relacionamento; 4) estima; 5) realização pessoal. Não estando a alimentação e a habitação salvaguardadas, a “escalada” tornar-se-á uma impossibilidade e a “realização pessoal” uma utopia.
Assisti à primeira de dez conferências do ciclo “O Estado das Coisas/As Coisas do Estado“, na Fundação de Serralves, que contou com a presença do professor Adriano Moreira e do presidente da Câmara Municipal do Porto, Rui Moreira. A moderação esteve a cargo de António José Teixeira, jornalista da SIC NOTÍCIAS e o debate centrou-se no tema: “Portugal: O Presente e o Futuro“. O ilustre professor diagnosticou o grande problema dos portugueses: “trabalho e pão na mesa”. O desemprego e as dificuldades de aquisição de produtos de primeira necessidade afetam cada vez mais famílias portuguesas. Concordo com o diagnóstico do professor, um verdadeiro ancião. Considero um privilégio poder partilhar do seu saber e da sua visão do mundo. As duas horas de duração da conferência foram mais valiosas do que dias de leitura e estudo. Um bom exemplo da importância da experiência de vida que nos deve fazer refletir e reverter o perigoso discurso que “descarta” os idosos e os considera um “peso” para o país, contribuindo para antagonismos entre jovens e velhos. O poeta Hampaté Bah, do Mali, numa só frase deixa bem claro o valor do idoso na comunidade africana: “Quando morre um africano idoso, é como que se queimasse uma biblioteca“. Com o “agrisalhamento” da população e a inversão da pirâmide demográfica, o lugar do idoso, nas sociedades ocidentais, deve ser repensado. Mais do que um “fardo” para a sociedade deve ser encarado como um precioso ativo.
O professor referiu também que “Portugal” é um país exíguo” que vive “uma situação que se aproxima do protetorado”, obrigado a “prestar contas a três empregados” (os senhores da Troika), mostrando-se apreensivo com o “ataque que é feito ao princípio do Estado Social”. Quanto aos partidos, considera que têm que se refundar (uma impossibilidade?). No que concerne à sociedade civil, entende que “está em movimento” e deu como exemplo a plateia que tinha à sua frente, um auditório cheio, numa sexta-feira à noite com bastante frio. Considera fundamental que a “sociedade civil participe realmente nas decisões do governo” e que se salvaguarde a comunhão dos afetos, preservando a identidade e a cultura do país. Um discurso crítico e constritivo a contrastar com outro ancião: Mário Soares. Este tem tido um discurso algo irresponsável e de agitação social que, além de motivar uma certa esquerda, pouco ou nada acrescenta de útil para a saída da crise em que nos encontramos.
Porque não há dois sem três, “em casa (país) em que não há pão todos ralham e nenhum tem razão”. Resta-nos a esperança de que os “senadores” da nação sejam a voz da razão e não queiram alimentar o sebastianismo ou anunciar o apocalipse.