Cotrim de Figueiredo anunciou a sua saída da liderança da Iniciativa Liberal. Como eu bem o entendo – ser líder de um partido é uma chatice. Ouve-se o que não se quer na rua, os filhos passam a ser acusados a dedo, os proveitos domésticos começam a reduzir de forma significativa.
É um enfado aturar o povo, aturar os militantes, aturar os dirigentes, aturar os deputados. Em suma, é uma maçada ser líder partidário para quem quer ter uma caminhada confortável no tempo de existência em que se merece ter uma vida aconchegada.
Mas o que é a Iniciativa Liberal? Nada! A IL foi, na anterior legislatura, a soma da imaginação de Cotrim com a organização capaz de Rodrigo Saraiva. O resto eram uns meninos que brincavam à política, porque não gostavam de Rui Rio e choravam por Pedro Passos Coelho, somados a uns nerds que faziam os cartazes do Marquês e do Saldanha com António Costa vestido de aviador.
As eleições deste ano, a maioria absoluta do PS, levaram a que a piada se perdesse, a que fosse necessário ir mais além do que simples tumulto. E, inteligente como é, Cotrim abriu a porta e saiu. Ele não quer que lhe citem Jean-Marie Le Pen, essa grande figura da democracia francesa, quando dizia – “Quand on n’a rien à dire, on fait du bruit…”.
Um partido, seja de que tipo for, precisa de um programa, de quadros, de bases e de um líder. A Iniciativa Liberal parecia ter um programa, mas esse programa vai ser comido pelo PPD/PSD com Montenegro; a IL parecia ter quadros, mas olhando para as centenas dos associados do Instituto Mais Liberdade (uma coisa serve bem os interesses da outra) só encontramos militantes, simpatizantes e interessados do PPD/PSD; a IL não tem bases, porque se diz um partido de quadros, e não tem quadros porque os liberais, em Portugal, são o que de mais dependente do Estado existe.
A saída de Cotrim de Figueiredo deveria obrigar a que Guimarães Pinto, agora que já é deputado, assumisse a sua versão portuguesa de Liz Truss. Iria ser muito mais divertido, porque o país ficaria especialista em biorritmos liberais. Iria ser muito mais interessante, porque Montenegro ficaria vacinado, antecipando o dia em que pensasse fazer uma aliança pré-eleitoral com a IL e com o CDS. Mas também podia ser Paulo Carmona, e por aí viria um caminho que levaria a IL, enquanto partido, a ser a primeira entidade do género a ser cotada na Bolsa de Lisboa. Não, vai ser tudo uma total falta de piada!
Quem são os candidatos a presidente da IL? Rui Rocha, licenciado em direito e diretor de recursos humanos que apareceu com a bênção bracarense; e Carla Castro Charters de Azevedo, doutora em gestão e empreendedora nas novas áreas tecnológicas.
Popular, popular, só se se deitarem todos aos mar. A IL, de tão nova que é, já parece mais velha que os velhos partidos da nossa democracia. E sem militantes, sem ideias e longe de um dia poder aplicar a sua máxima – nem mais um cêntimo para os pobres – será de preço baixo para o PPD/PSD, em 2026.
Deus lhes dê uma vida eterna descansadinha.
(Fotos DR)