A memória traiçoeira

Tempo também de lembrar os já finados, os afectos idos e, de todos eles -- e já são tantos -- destacar "um momento", uma palavra, um rosto, um sorriso.

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  • 12:17 | Sábado, 31 de Outubro de 2020
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Este despedir do mês numa alvorada de sábado triste, sem cor que anime, com uma morrinha tonta a meia aurora e amenizados 16º de temperatura.

Adjuvante do atrito, a convocar a interioridade pessoal, a fazer do dia um tempo do a-dentro, das arrumações plurais, dos objectos, dos espaços, de nós.

Manhã de umas “malgadas” de café, de olhar com carinho cansado à nossa volta, tarde de só-estar, alheado do bulir.


Tempo também de lembrar os já finados, os afectos idos e, de todos eles — e já são tantos — destacar “um momento”, uma palavra, um rosto, um sorriso.

Tanta gente, tanta nossa gente a deixar-nos só senhores do círculo singular, dos amos de ninguém, aios da memória traiçoeira que a cada dia mais se desfoca na nitidez tão perdida, carimbando o vivido com um timbre de semi-ficção, amparado no talvez.

Apre! Se continuo nesta toada, agarro no Ernest e releio “Por quem os sinos dobram“…

Mas talvez o medievo François Villon seja mais apropriado:

“Frères humains qui après nous vivez,
N’ayez vos cœurs contre nous endurcis,
Car, si pitié de nous pauvres avez,
Dieu en aura plus tôt de vous merci.

(citei de cabeça, tolerância..)

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Publicado em Opinião