Portugal é um país de grandes atitudes e decisões superlativas. Quando é preciso, ultrapassa a sua pequena geográfica e a sua diminuta relevância internacional, apesar dos génios que individualmente se vão destacando em várias áreas da sociedade. Difícil, é enumerá-los todos, sem deixar algum para trás.
Nas artes, na ciência, no desporto, na política, temos exemplares destacados. Vivos ou já falecidos são muitos os que orgulham a Pátria e não permitem que os créditos da nossa gloriosa História vão parar a mãos alheias. Com a complacência turva de todos os nossos governos, da Monarquia à República, já basta o roubo de Olivença, que em tudo que mexe tem alma portuguesa e sentir lusitano.
As últimas eleições europeias foram as primeiras realizadas com a desmaterialização dos cadernos eleitorais, que passaram a estar “on line” numa plataforma da secretaria-geral do MAI. Para que as mesas de voto pudessem ter acesso aos cadernos e dar o eleitor como tendo já votado. Com esse avanço, foi possível ao cidadão eleitor votar em qualquer ponto do país e a CNE ter ao segundo noção exacta da afluência às urnas.
Só boas notícias, que o governo em funções tratou de espalhar aos quatro ventos, exibindo modernidade, e o anterior, reclamando a autoria e ter deixado o projecto pronto a andar.
Rejubilaram os políticos todos do arco do poder, que nisto de festins, todos são de boa boca e sempre prontos para o lançar dos foguetes. Acertam o passo, e caem nos braços uns dos outros, babando-se, sem rejeições nem dificuldades de monta. Pois bem, soube-se agora que o Estado, lesto a fazer as necessárias ligações, foi rápido que nem a velocidade da luz a desinstalar a rede, findo o acto eleitoral.
São maldades escusadas, que não dão ganho ao Estado e só lhe trazem dissabores. Nas suas contas são miudezas, mas isso pouco importa quando impera a sanha de mandar e de tudo dispor. Se houvesse um critério são, certamente que o tino aconselharia os seus serventuários a cortar nas gorduras e nas inutilidades, mantendo o que não passa de ninharia. Assim, às mãos de uma vilanagem, perdeu-se infelizmente uma oportunidade de ouro de alargar a cobertura nacional, de indesmentível valor estratégico.
Por exercício meramente teórico, imagino o levante que aconteceria se o mesmo sucedesse nas cidades e nas vilas mais povoadas. Temo que caísse o governo e houvesse guerra civil, não resistindo a democracia à ira dos milhões – pessoas, empresas, os serviços públicos – que já não se imaginam a viver sem internet, privados da luz que ela traz, impedidos dos negócios, internos e externos, que ela facilita.
Mas no interior, sem gente e sem vozes que com ele gaste preocupações e verdadeiramente o defendam, é mais fácil cortar. E de asneira em asneira, vai-se o Estado consumindo, numa encosta quase vertical de decisões ridículas, porém de muita monta para quem se vê por elas prejudicado. Melhor fizera, se estivesse quieto, a cabeça tolhida de raciocínio descabido e tacanho.
Esta é a versão mais genuína e repimpada do Estado mesquinho, preocupado com minudências, fuinhas, a ligar aos cêntimos, sovina, poupando nos trocos, mas com uma malha larga por onde deixa passar fortunas de milhões, sob o olhar negligente de quem devia estar sempre acordado e à coca.
Que mal viria ao mundo se a internet, depois de ligada, assim continuasse, diminuindo o isolamento das populações, que por si só já é uma sentença pesada, aproximando-as do mundo que gira à sua volta? Só mesmo vistas curtas na cara de gente tacanha terão dado corpo a esta maldade, somente árvore doente terá gerado esta podre fruta. Como se fosse fado ou desatino, para o Paço, pejado de carpetes de pêlo alto, cortinados de seda, baixelas de prata e criados de libré, onde, gozando da fama dos mochos, residem no esplendor fragoroso os delegados políticos, os síndicos da “res publica”, tudo vai e escorre, ontem, hoje e amanhã, sabendo ainda assim a poucochinho, sem que por uma vez só uma voz se alevante contra o delírio, corra contra a piração, e interrompa este ciclo vicioso, que há-de levar-nos à desgraça.
O Estado, autor destas e de outras asneiras, tem pouco calibre e é organização pouco recomendada. É o Estado dos maus, dos impuros, dos arrivistas. Tivessemos nós uma sociedade civil viva, crítica, activa, muito diferente daquela que é a nossa, calada, amputada, castrada, subserviente, temerosa, resultado de um trabalho paciente e sabiamente desenvolvido pelo Estado Novo, e muitos pés não calçariam este sapato feito à medida da forma de sapateiro, que, pequenos ou grandes, à viva força lhe querem impingir.
Quando voltasse a haver ligação da internet por necessidade do Estado, devia o povo virar-lhe as costas e dar-lhe uma lição: NÃO VOTAR, BOICOTANDO! Isso sim, era resposta capaz e serviço de qualidade.