A ingratidão de Aguiar-Branco

"O Chega inventou a técnica, o PS institucionalizou. O Pedro Nuno Santos fez pior à democracia em seis dias do que André Ventura em seis anos.”

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  • 16:05 | Sábado, 15 de Março de 2025
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Quem lida com políticos não ignora que uma das suas menores qualidades é a gratidão.

Na generalidade e na sua insaciável ambição, só são gratos no momento de arrecadar a prebenda, logo de seguida erguendo os olhos para a próxima oportunidade no horizonte, mirando em redor em busca dos actantes úteis para o imediato que se segue.

José Pedro Aguiar-Branco entrou na política logo a seguir ao 25 de Abril de 1974, há meio século. Exerceu vários cargos e chegou a ser ministro da Justiça, com Santana Lopes e da Defesa com Passos Coelho. É, pois, um político com muito “roulement”, de quem não se esperam estrídulas gaffes.


Com o seu ar de menino de coro bem-comportado, o advogado portuense só foi eleito presidente da Assembleia da República em Março de 2024 com o voto do grupo parlamentar do Partido Socialista e com a confiança que lhe foi então outorgada pelo seu secretário-geral, Pedro Nuno Santos.

No passado dia 12 de Março, no decurso do Conselho Nacional do PSD, eventualmente embalado num arroubo de oportunidade política, para ser “mais papista que o Papa”, Aguiar-Branco acusou de dedo em riste:

“O Chega inventou a técnica, o PS institucionalizou. O Pedro Nuno Santos fez pior à democracia em seis dias do que André Ventura em seis anos.”

Assim, sem mais nem menos, comparando “inchaço com gordura”, para desvalorizar o “caso Spinumviva” que envolve Luís Montenegro e que provocou a dissolução da AR e consequente queda do Governo.

Desta feita e assim, minimizando todos os “excessivos” e sucessivos actos populistas do líder do Chega – por quem Aguiar-Branco mostra ter muito respeitinho – baseando-se no facto de Pedro Nuno Santos ter votado contra a Moção de Confiança apresentada pelo governo e ter anunciado de que iria apresentar uma CPI.

Obviamente, num direito que lhe assiste como líder do maior partido da oposição, que não tem como função dar aval às controvérsias que envolvem o primeiro-ministro em funções, antes pugnar pelas suas completas e exemplares dilucidações. A bem da Democracia…

Mas foi mais longe na retórica inflamada e acerca das CPI, considerou-as “uma porta perigosa” (…) “para efeitos de devassa e de voyeurismo”.

Isto dito por um político que desempenha funções de Presidente da Assembleia da República é tão mais grave quanto põe em causa as CPI’s que estão consagradas na Constituição da República Portuguesa e “são investigações conduzidas pelo Poder Legislativo para ouvir depoimentos e tomar informações directamente sobre assuntos e casos considerados relevantes.”

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Publicado em Opinião