A recente criação da incubadora de base rural, embrionária da Vissaium XXI (Associação para o Desenvolvimento de Viseu), uma organização sem fins lucrativos, iniciou as suas actividades com a organização da oficina do empreendedor. Com um aviso de abertura de candidaturas para usufruto de um “programa de empreendedorismo e negócio em meio rural” em 3 etapas com o objectivo de concretizar a instalação de negócios sólidos e qualificados em meio rural.
Quando a pressa em mostrar trabalho e apresentar resultados, se apodera deste executivo, os projectos que se revestem de essenciais no combate ao abandono rural, revelam múltiplas fraquezas de ordem organizacional e de planeamento. A falta de métodos de investigação e de raciocínio que dariam origem a bases de trabalho credíveis e sólidas de conhecimento adquirido sobre o território limitam muito do projecto à partida. Para apresentar à sociedade e constituírem-se como base de trabalho científica e temática para a construção de laboratórios de inovação, tecnológicos e juvenis, despoletar o interesse de jovens, desempregados ou qualquer cidadão em mudar de trabalho para enveredarem pelo sector primário há que estruturar o projecto na totalidade.
Recuemos no tempo para perceber a cronologia da génese desta incubadora. Em 2015, o Conselho Estratégico de Viseu, que em todo o mandato nem uma vez mais terá reunido, apresentou um documento escrito síntese para consulta e debate público, o programa Viseu Rural com os seguintes objectivos específicos:
“Melhorar a qualidade de vida em espaço rural”
“Contribuir para o aumento da produtividade e da competitividade dos setores agroalimentar, florestal e turístico nos mercados locais, nacional e externos…”
Em destaque neste mesmo documento é desenvolvido o tópico “produtividade e competitividade do complexo agrícola e florestal” onde são expostas tipologias de medidas a aplicar. Consta a “actualização do levantamento e caracterização do sector agrícola e florestal”, donde se deduz que se seriam introduzidos métodos de investigação (rastreamento) para a elaboração da carta agrícola e florestal: nela incluindo as características antromogeomorfológicas do solo, a capacidade hídrica e as condições climatológicas das zonas rurais, formariam um instrumento poderoso de aliciamento para futuros empreendedores nos seus exercícios de definição das culturas agrícolas de maior potencial (e sustentáveis) ou na fase de pesquisa para a elaboração dos programas de empreendedorismo rural. Assim como as bolsas de terras previamente cadastradas (para auxílio na negociação entre locadores e locatários) para disponibilização imediata no momento fulcral de decisão da localização ideal. Tudo isto obviamente incluído e apresentado publicamente no portal do município ou noutra plataforma de uma organização sem fins lucrativos. No documento atrás referido uma das medidas propostas era o “Portal “Viseu Rural” um canal de informação técnica e científica para o sector…”, também era prometida uma “rede de informação e apoio ao investimento para informação sobre incentivos nacionais e comunitários, bem como os mentores multidisciplinares.”
Numa primeira pesquisa verifica-se que nesta incubadora não se conhecem protocolos com a Associação Nacional de Jovens Empresários (com uma vasta rede com espaços em diversos pontos do país), com o IAPMEI (essencial para o financiamento de projecto) e não figura em nenhum dos sites institucionais ligados às PME.
Mais grave e estapafúrdio, a Vissaium XXI nem a incubadora rural possuem um sítio de internet próprio de esclarecimento. A fazer lembrar o Viseu Digital da Associação Lusitânia de má memória para os viseenses, onde se derreteram milhões no éter, também esta Vissaium apresenta um site www.v21.pt (está vazio de conteúdo e pede uma senha de acesso), figura um site na plataforma Linkedin muito confuso, nada esclarecedor e que afasta logo os interessados, que depois de lerem este artigo podem comparar com outros exemplos abaixo apresentados no artigo.
O início das actividades desta estrutura de trabalho, começa com a dinamização de uma 1ª etapa para um potencial futuro empreendedor, uma 1ª oficina do empreendedor com as inscrições abertas, para certificar se uma pessoa é capaz de alavancar um negócio, como refere o seguinte “…sessões de capacitação para que perceba se tem ou não perfil de empreendedor e a oportunidade de conhecer o percurso de vários empreendedores, quer através de encontros, quer através de visitas a casos de sucesso”.
Um centro de formação profissional privado ou instituição de ensino superior não faz avaliações para verificar se tem o perfil de empreendedor e capacita-o? A ocupação de funções de entidades certificadoras por parte de um organismo do município não é contraproducente? Isto porque ao contrário de todas as outras incubadoras espalhadas por este país, a 1ª etapa constitui a candidatura com a ideia de negócio já desenvolvida (ver imagem abaixo) e o curriculum vitae para avaliação da incubadora. Na nossa incubadora, não é pedida a ideia de negócio nem esta auxilia com um canal de informação técnica e científica essencial para um cidadão preocupado com o seu futuro planear por si mesmo uma ideia de negócio para a submeter (tudo é uma incógnita). A incubadora tem uma índole muito específica, é absolutamente necessário o conhecimento in loco das características e condicionantes físicas das zonas rurais para a definição das culturas agrícolas, assim como as novas ferramentas de logística e gestão do volume de negócio que estarão a ser desenvolvidas na região pelos 800 engenheiros (conhecem alguma?). Num artigo do jornal Eco, Tiago Ratinho, diz o seguinte: “…o apoio ao empreendedorismo tem necessariamente de passar por uma avaliação fiel das condições regionais que devem ser a base de conceção do programa de intervenção de cada incubadora em cada startup”. Interrogo o leitor se esta avaliação está feita e se advém do programa Viseu Rural?
Mesmo as etapas de incubação (planificadas) e seu prazos são total díspares conforme pode confirmar, analisando as duas imagens apresentadas: Incubadora Rural viseense vs Incubadora do Tagus Park.
Salvo melhor opinião, a Vissaium incubadora local começa mal e sem futuro garantido.
Uma pena já que a longevidade das startups incubadas é maior em regiões escassamente povoadas e baixa concentração ou ausência de indústria. Isto tudo sob alçada do criador do MUV (não executado na sua maior parte), que até mesmo no Webinar de apresentação da incubadora, se presta a um chorrilho de inverdades e propaganda politiqueira, com os vértices das hortas comunitárias com os 30 talhões todos ocupados, os trilhos turísticos do rio Vouga ou os bosques intergeracionais que estão a ser consolidados com a plantação de espécies autóctones em todas as freguesias. O engenheiro agrícola não se lembrar minimamente de expor as condições geomorfológicas do seu concelho em detrimento de efabulações é grave. Mas enfim, vamos esperar que do Viseu Rural surjam boas ideias e melhores empreendedores que importem valor para o espaço agrícola do concelho, criando emprego e valorizando os produtos endógenos da região. Se surgir um que seja a fazer vinho do Dão melhor do que alguns calhaus que por aí andam já valerá a pena!
https://www.linkedin.com/in/centro-de-incubação-tecnológica-de-viseu-a67359195/
https://www.startuplisboa.com/
https://www.taguspark.pt/Incubadora