O cineasta Leitão de Barros dedicou o seu tempo a alinhavar «notas de estética» sobre a «revisão e elogio do mau gosto», que fez publicar na revista Panorama em Fevereiro de 1943. Explica aos concidadãos a conveniência de mudarem de ideias acerca das palmeiras, árvores mal-amadas que ele queria dignificar e multiplicar para que o seu aspecto exótico marcasse Lisboa como uma capital imperial. Já as «acácias atarracadas» lhe desagradavam e os «magros ciprestes de muletas» o desanimavam.
Das árvores, passa para os lustres produzidos com vidro de garrafa, «caranguejolas pardas, sem brilho, eternamente baças de pó». Também o mobiliário lhe entra no esforço de sopesar o bom e o mau gosto. As suas opiniões não são simples nem fáceis. Elogia a pátria e o ministro Duarte Pacheco, derrete-se em generalidades e toma-se de um arroubo justiceiro que nos impressiona e amedronta.
Os homens de artes e letras meditam em muitas coisas que parecem inúteis. São capazes de escrever sobre o que fazem e, ainda mais, sobre os processos mentais da criação. Não digo isto por causa de Leitão de Barros. Tenho notícia de que o Diário de Notícias publicou um inquérito para saber como trabalham certos escritores e artistas. Foram ouvidos Aquilino Ribeiro, Ferreira de Castro, Ramada Curto, Amélia Rey-Colaço, Almada Negreiros, Abel Manta, Francisco Franco e alguns mais. Soube isto na biografia de Salazar escrita por Franco Nogueira. Com uma boa oportunidade, leria os ilustres depoimentos, mas neste momento não posso. Talvez um dia.
Nuno Rosmaninho