A Geringonça comeu o centro?

Hoje temos um governo que cambaleia sempre que há um Orçamento de Estado para aprovar e que é "encostado às cordas" sempre que há conjugação entre os restantes partidos contra as posições do governo.

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  • 13:21 | Domingo, 17 de Outubro de 2021
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Até 2015 e desde que temos eleições a nossa Democracia só gerou governos do PS ou à direita deste.

Pudemos ver governos: do PS, PS/CDS, PSD/CDS/PPM, PS/PSD, PSD, PSD/CDS.

Sempre se olhou para as soluções governativas como só sendo possíveis sem participação dos partidos à esquerda do PS.


E as soluções variavam de acordo a oscilação de um eleitorado que ora votava PS, ora votava PSD.

Este eleitorado era designado de “Centro” e dele dependia a solução governativa que as eleições geravam.

Se pendia para o PS dizia-se termos uma solução de centro-esquerda. Se pendia para o PSD era de centro-direita.

No entanto, fora das situações de maioria absoluta, o normal era a tradução em eleitos corresponder à comummente chamada maioria sociológica de esquerda.

E foi do corte com esta tradição na constituição de governos que nasceu a chamada Geringonça.

O facto de o PS ter encontrado entendimentos à sua esquerda para suportar a investidura de um governo foi uma surpresa e em alguns setores foi vista como blasfémia. Tanto mais quando nem sequer era a força concorrente mais votada.

No entanto dali saiu uma solução estável e, de algum modo, virtuosa.

No rescaldo das eleições de 2019, face aos resultados, esperava-se a continuidade da solução. Contudo voltou -se à já desgastada solução de governo minoritário a negociar soluções pontuais na Assembleia da República. Só que agora preferindo os partidos à esquerda do PS e abjurando entendimentos com o PSD.

O resultado não é muito diferente de quando o PS suportou governos em acordos variáveis ora com o PSD, ora com o CDS.

Hoje temos um governo que cambaleia sempre que há um Orçamento de Estado para aprovar e que é “encostado às cordas” sempre que há conjugação entre os restantes partidos contra as posições do governo.

São os custos de governar sem um compromisso orientador e suportado.

Esta solução de geometria variável à esquerda não funciona e até Marcelo Rebelo de Sousa, que a via como um reforço da sua posição, olhará para ela agora com angústia.

Tarda uma solução que leve à aprovação do OE. Mas este atraso é desgastante e espero que não estejamos perante um indesejável jogo de sombras. Se for este o caso é uma situação nada recomendável e perniciosa à Democracia.

Perante tudo o que se passa o cenário de eleições antecipadas ganha força.

Mas todos olham para elas com angústia.

O PS avalia se consegue manter-se como mais votado.

PCP e BE fazem contas e temem menor votação.

O PSD contabiliza as votações das autárquicas e teme que não seja suficiente para retirar a maioria à esquerda ou sequer ser o mais votado.

O CDS procurará coligar-se com o PSD, pois teme ficar ainda mais irrelevante.

Os restantes partidos acham que podem crescer e esperam.

Até Marcelo Rebelo de Sousa está angustiado com a perspetiva de marcar umas eleições que podem servir para… deixar tudo na mesma e com isso ganhar irrelevância.

Toda esta incerteza tem origem num esvaziamento do campo de eleitores que oscilavam o voto entre PS E PSD.

A grande dúvida está na dimensão desta diminuição que resultou dum maior acantonamento originado em 2015 pelos acordos da Geringonça.

Será que o chamado “centro” já não tem miolo eleitoral suficiente para decidir e impor soluções governativas?

É essa a grande incógnita.

 

 

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