Até 2015 e desde que temos eleições a nossa Democracia só gerou governos do PS ou à direita deste.
Pudemos ver governos: do PS, PS/CDS, PSD/CDS/PPM, PS/PSD, PSD, PSD/CDS.
Sempre se olhou para as soluções governativas como só sendo possíveis sem participação dos partidos à esquerda do PS.
E as soluções variavam de acordo a oscilação de um eleitorado que ora votava PS, ora votava PSD.
Este eleitorado era designado de “Centro” e dele dependia a solução governativa que as eleições geravam.
Se pendia para o PS dizia-se termos uma solução de centro-esquerda. Se pendia para o PSD era de centro-direita.
No entanto, fora das situações de maioria absoluta, o normal era a tradução em eleitos corresponder à comummente chamada maioria sociológica de esquerda.
E foi do corte com esta tradição na constituição de governos que nasceu a chamada Geringonça.
O facto de o PS ter encontrado entendimentos à sua esquerda para suportar a investidura de um governo foi uma surpresa e em alguns setores foi vista como blasfémia. Tanto mais quando nem sequer era a força concorrente mais votada.
No entanto dali saiu uma solução estável e, de algum modo, virtuosa.
O resultado não é muito diferente de quando o PS suportou governos em acordos variáveis ora com o PSD, ora com o CDS.
Hoje temos um governo que cambaleia sempre que há um Orçamento de Estado para aprovar e que é “encostado às cordas” sempre que há conjugação entre os restantes partidos contra as posições do governo.
São os custos de governar sem um compromisso orientador e suportado.
Esta solução de geometria variável à esquerda não funciona e até Marcelo Rebelo de Sousa, que a via como um reforço da sua posição, olhará para ela agora com angústia.
Tarda uma solução que leve à aprovação do OE. Mas este atraso é desgastante e espero que não estejamos perante um indesejável jogo de sombras. Se for este o caso é uma situação nada recomendável e perniciosa à Democracia.
Perante tudo o que se passa o cenário de eleições antecipadas ganha força.
Mas todos olham para elas com angústia.
O PS avalia se consegue manter-se como mais votado.
PCP e BE fazem contas e temem menor votação.
O PSD contabiliza as votações das autárquicas e teme que não seja suficiente para retirar a maioria à esquerda ou sequer ser o mais votado.
O CDS procurará coligar-se com o PSD, pois teme ficar ainda mais irrelevante.
Os restantes partidos acham que podem crescer e esperam.
Até Marcelo Rebelo de Sousa está angustiado com a perspetiva de marcar umas eleições que podem servir para… deixar tudo na mesma e com isso ganhar irrelevância.
Toda esta incerteza tem origem num esvaziamento do campo de eleitores que oscilavam o voto entre PS E PSD.
A grande dúvida está na dimensão desta diminuição que resultou dum maior acantonamento originado em 2015 pelos acordos da Geringonça.
Será que o chamado “centro” já não tem miolo eleitoral suficiente para decidir e impor soluções governativas?
É essa a grande incógnita.