A consultora Eurasia Group situa o fim da era Merkel como um dos 10 riscos (Top Risks 21) que o planeta enfrenta durante o ano de 2021, a par de outros igualmente elevados como a tensão política que se vive nos Estados Unidos e o impacto económico da pandemia. Um dos pontos mais baixos da sua popularidade – a gestão da crise dos refugiados – em Berlim e em Bruxelas, foi a pedra de toque que me faltava para a considerar a principal referência política. Tenho para com ela uma dívida de gratidão, enquanto familiar de emigrantes na Alemanha; também lá trabalhei sazonalmente, enquanto estudante; como europeu e democrata. Foi eleito, como seu sucessor, Armin Laschet, Primeiro-ministro da Renânia do Norte – Westfália, o novo Presidente da União Democrática Cristã (CDU), representando a linha de continuidade ideológica da chanceler. Bons sinais para a Alemanha, para a Europa e para o Mundo.
Como diz Mário Vargas Losa, no artigo “Assalto ao Capitólio”, que assina no El País, “Donald Trump demonstrou que todas as democracias – todas, mesmo as mais antigas e sólidas – são precárias. Sendo o voto livre, tal não significa que os cidadãos votem sempre bem. Muitas vezes, votam mal e não elegem o melhor, mas o pior. Talvez esta seja a melhor lição que nos deu Trump. Os norte-americanos elegeram mal – votaram mais contra a senhora Clinton do que em Trump – e isso foi uma tragédia para os Estados Unidos.”
O nosso país, na fase mais crítica, desde que a pandemia nos assolou em março de 2020 – estamos a bater todos os recordes mundiais (infeções, internamentos, mortes…) – realiza eleições para sufragar o Presidente da República. Com a devida vénia à Constituição, andaram mal os partidos políticos ao não terem criado, em tempo útil, as condições para o adiamento do ato eleitoral.
São muitos os momentos e factos sui generis que em nada contribuem para fortalecer a nossa democracia. A agressividade latente no discurso, por vezes confrangedor; de alguns candidatos, a falta de respeito pelo outro (adversário e não inimigo); o desrespeito pelas regras básicas no combate, esse sim um verdadeiro inimigo, ao vírus Covid-19, são sinais preocupantes. Também os responsáveis pela Comissão Nacional de Eleições (CNE) têm sido pródigos em “inconseguimentos”. Durante algum tempo pensei que era uma piada, mas não era, ao votar antecipadamente, no passado domingo, verifiquei que consta no boletim de voto para a Presidência da República o candidato “fantasma” Eduardo Nelson da Costa Batista. Imaginemos, por mero exercício académico, que os portugueses decidiam colocar a cruz na quadrícula deste candidato… Será caso para equacionar o slogan do célebre Palhaço Tiririca: “Vote Tiririca – pior que tá não fica”?
Quando fui votar vi muitas pessoas, ordeiramente e, isso sim, com os rostos fechados, a aguardarem vez, para votarem no seu candidato. Sendo defensor do adiamento das eleições, como tal não ocorreu, desta vez – fruto da pandemia e dos perigos extremistas – não poderia deixar de exercer o meu direito. Excecionalmente, compreendo quem possa não votar, desta vez, pelo contexto pandémico que ceifa vidas umas atrás das outras. Também a nossa democracia é precária, nunca nos esqueçamos da lição Americana…
Não façamos desta eleição uma festa, mas também não deixemos que dela resulte mais uma tragédia a somar-se à crise sanitária, social e económica.