A Alemanha deve ver a sua recessão atingir perto dos 10% no segundo trimestre, cifras nunca registadas após a Segunda Guerra Mundial. O impacto económico e social antevê-se duas vezes mais forte do que o registado na crise económica e financeira de 2008-09. Este cenário que ensombra a locomotiva económica da Europa, e consequentemente toda a zona euro, explica a urgência do planeamento que permita gerar e gerir as condições necessárias para uma saída rápida e responsável do confinamento a que muitos países estão sujeitos, sem a qual as consequências económicas e sociais serão dramaticamente colossais.
Nos Estados Unidos da América, durante as últimas duas semanas, foram contabilizados 6,6 milhões de novos desempregados. As intermináveis filas de pessoas que buscam alimentos e a distribuição de pessoas sem-abrigo em parques de estacionamento, ocupando os lugares até então destinados aos carros, são chocantes e induziram o Papa Francisco a apelar aos povos que “despertem o sentido de vizinhança”.
Se nos países ditos do 1.º mundo o cenário é dantesco o que esperar da entrada do vírus nos designados países do 3.º mundo?
Num momento em que vivemos todos separados, confinados e isolados, não restarão grandes dúvidas de que teremos que encontrar uma resposta global que não discrime os excluídos do mundo inteiro, desde a favela da Rocinha, no Rio de Janeiro, aos subúrbios das três das quatro maiores metrópoles mundiais na Índia: Nova Delhi, Chennai e Mumbai. Estas comunidades estão expostas à pandemia sem possibilidade de se protegerem, face à precariedade das suas condições de vida. Como se confina uma pessoa que vive, numa favela, cuja casa tem um quarto, uma sala e uma casa de banho e nela coabitam 8 pessoas?
Abandonar os mais frágeis será um erro crasso que sairá muitíssimo caro. É a Humanidade, no seu todo, que está sob a mira do vírus. Só uma resposta mundial será eficaz, face a um inimigo invisível que rapidamente se propaga na comunidade.
A senhora Christine Lagarde, Presidente do Banco Central Europeu (BCE), num artigo publicado no jornal francês Le Monde é bem clara: “Não podemos usar receitas antigas porque as origens do desafio são diferentes das de uma crise financeira ou de uma recessão clássica.”
Estou de acordo senhora Lagarde, as receitas antigas não serão recomendáveis. O primeiro e imprescindível ingrediente, para uma receita disruptiva, é a EMPATIA entre cada pessoa, entre cada país, entre cada continente. Cada um de nós deve contribuir para a Globalização da Democracia do Cuidado e da Saúde e combater com todas as forças o vírus do racismo que parece proliferar.
Recordo a infeliz qualificação que Donald Trump atribuiu ao Covid 19: “O Vírus Chinês”. Esta afirmação não explicará tudo, mas ajudará a compreender a vaga de agressões verbais e físicas a que tem estado sujeita a comunidade asiática nos EUA: “Chinês porco”, “Volta para a tua terra” (…)
A culpabilização e o medo do outro despertam sentimentos perigosos de exclusão e de marginalização que contaminam a comunidade, sem que se conheça um antídoto mais eficaz do que a EMPATIA.
Ainda que numa outra dimensão, também constatamos, no nosso simples quotidiano, que o medo do outro se apodera de nós. Ao cruzarmo-nos com outras pessoas, não é incomum que os olhares se desencontrem, se fixem os olhos no chão… Numa ida ao hipermercado, um senhor indignou-se quando uma senhora lhe tentou dar, em mão, uma senha que tinha tirado a mais para a fila da peixaria: “Não se aproxime minha senhora!”.
A tristeza viral do mundo e o cataclismo macroeconómico que se anuncia contamina-nos, mas não nos podem retirar a EMPATIA para com o outro, caso contrário o resultado será a barbárie.