A desventura de ter um candidato saudoso da ditadura

Andam pelas ruas das nossas cidades carros de som da campanha de André Ventura e ouve-se o candidato a vociferar: “Basta de corrupção!” [ajudar os ricos a fugir ao fisco não alimenta a corrupção?], “(…) BASTA DE 46 ANOS DE EMPOBRECIMENTO!” O que isto quer dizer é que, para André Ventura, antes do 25 de Abril, ou seja, na ditadura derrubada há 46 anos é que se vivia bem. Como se nos esquecêssemos dos milhões de portugueses, quase metade da população, que tiveram de emigrar para fugir à miséria e à fome.

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  • 19:38 | Sexta-feira, 15 de Janeiro de 2021
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Nestas eleições presidenciais está em jogo um projecto político ligado a forças da extrema-direita racista e xenófoba, apoiada por grupos neonazis e fascistas, liderado por um deputado troca-tintas, que ora diz uma coisa como o seu contrário.

Tudo isto está mais do que provado e as reportagens da SIC e das revistas Visão e Sábado vieram pôr a nu as ligações do Chega a poderosos empresários e homens de negócios, banqueiros, negociantes de armas, gente da alta finança (talvez alguns dos que ele ajudou a fugir ao fisco), as relações internacionais com a extrema-direita fascista e os casos de polícia.

Ventura diz que é anti-sistema, mas na verdade ele representa a face mais negra do sistema. O único sistema que ele pretende liquidar é a democracia, como estão a fazer os seus ídolos, Trump, Bolsonaro e Salvini. Muitos dirigentes distritais do Chega já se demitiram, denunciando a prepotência e as ligações perigosas de Ventura que teve de criar uma “lei da rolha” para calar os críticos dentro do seu partido.

Andam pelas ruas das nossas cidades carros de som da campanha de André Ventura e ouve-se o candidato a vociferar: “Basta de corrupção!” [ajudar os ricos a fugir ao fisco não alimenta a corrupção?], “(…) BASTA DE 46 ANOS DE EMPOBRECIMENTO!” O que isto quer dizer é que, para André Ventura, antes do 25 de Abril, ou seja, na ditadura derrubada há 46 anos é que se vivia bem. Como se nos esquecêssemos dos milhões de portugueses, quase metade da população, que tiveram de emigrar para fugir à miséria e à fome.


Este elogio do fascismo salazarista não admira num partido que tem no seu programa a liquidação do Serviço Nacional de Saúde, universal, geral e tendencialmente gratuito, e da escola pública. Também o detector de mentiras da SIC, o Polígrafo, entre outros do género, tem provado à saciedade que Ventura é um vigarista, mentiroso compulsivo e sem vergonha. Só para lembrar um caso: garantiu solenemente que seria o primeiro a dar o exemplo se fosse eleito deputado, ficando em exclusividade no Parlamento, mas na realidade, acumulou três vencimentos (o de comentador na Cofina Media, o de consultor financeiro na Finpartner e o de deputado) até Maio e Junho de 2020, já depois do Bloco de Esquerda ter denunciado mais esta aldrabice.

 

MARISA MATIAS, A CANDIDATA QUE MAIS SAÚDE DÁ À DEMOCRACIA

Para não nos deixarmos enganar por este tipo de charlatão populista não é preciso tirar um curso de ciência política. Pessoalmente, como estudei como trabalhador-estudante, desde o 6º ano até concluir tardiamente a licenciatura, já passei por várias profissões e actividades que me permitiram aprender muita desta matéria com homens e mulheres do povo, trabalhadores rurais, operários, funcionários públicos e empregados de escritório, intelectuais e artistas, professores e cientistas, de várias filiações partidárias, mas todos homens e mulheres inconformadas com as desigualdades e com o défice de liberdade e de democracia que nos foram impondo as classes privilegiadas, quer no tempo da ditadura, quer actualmente com esta democracia condicionada pelo poder da alta finança e da baixa política, como a personalizada pelo louco magnata do imobiliário que chegou a presidente do país mais poderoso do Planeta, pelo menos militarmente, e pelo seu discípulo André Ventura.

É por isso que eu gostaria de ver como Presidente da República do meu país uma pessoa ligada à vida concreta das pessoas, como Marisa Matisa que trabalha desde os 16 anos (em limpezas, como empregada de mesa e a dar aulas) e sempre como trabalhadora-estudante conseguiu licenciar-se em Sociologia, tendo feito o seu doutoramente em 2009, com a tese “A natureza farta de nós? Saúde, ambiente e novas formas de cidadania”. Além disso também ela é uma activista pelos direitos culturais, pelo Ambiente, pelos direitos das mulheres e pelos Direitos Humanos em geral.

O próprio Marcelo Rebelo de Sousa reconheceu, num debate, o papel de Marisa no Parlamento Europeu no combate aos medicamentos falsificados, na estratégia de combate ao Alzheimer e outras demências e como fundadora do grupo de trabalho sobre a diabetes, para além da defesa dos cuidadores informais, o que lhe valeu ser eleita em 2011 como eurodeputada do ano na área da Saúde. Em 2019 também foi nomeada “campeã pelo clima”, pela Rede Europeia de Acção Climática.

Também na defesa dos Direitos Humanos a Marisa tem estado na primeira linha. Ainda em Outubro de 2020, ela foi ao campo de refugiados de Moria, na ilha grega de Lesbos, denunciar as condições indignas em que a Europa Fortaleza conduzia os refugiados (40% são menores de idade), desalojados depois do incêndio de Setembro, sem acesso a sanitários, água, comida e medicamentos. Ainda por cima ameaçados pelas mílícias da extrema-direita grega. Marisa denunciou também o Pacto para as Migrações da União Europeia que insiste no repatriamento e não na solidariedade para com os imigrantes. Recordo que os imigrantes que trabalham em Portugal têm dado um precioso contributo para a sustentabilidade da Segurança Social.

Finalmente, porque considero que a Marisa Matias seria a melhor e mais consequente Presidente da República para barrar o caminho ao crescente perigo da extrema-direita racista e xenófoba, representada pelo candidato apoiado por neonazis e fascistas, aliado de Marine Le Pen que quer proibir o ensino da língua portuguesa nas escolas em França, e o único político português que defendeu até ao fim o paranóico anti-democrata Donald Trump, eu votarei Marisa.

 

 

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Publicado em Opinião