A solidão da palavra prostituta velha abusada consumida usada.
A palavra dada a empreiteiros do discurso como tijolos soltos arremessáveis à debilidade do objecto.
A palavra maculada perdida da fonte num caudal rosnento de gárrulas.
A palavra no desespero da averbalidade.
A palavra da massa fútil e desfulgurada.
A palavra in identificada com referente denegação antítese na boca alarve da manipulação.
A palavra-quadro onde arabesco e risco são tudo-nada metáfora de coisa nenhuma.
A palavra subjugada à matemática à sua gramática exacta pura distante.
A palavra tão atonal como a música electrónica onde laceração corre rebordo de vidro estilhaçado.
A palavra mutilada do sentido, fugida do étimo perdida num tempo acrónico que não aceita a decadência.
A palavra liberta para ser lasca esquírola osso branco ou ferida.
A palavra a tremer num silêncio que significa e por significar repudia e descarta o inusual.
A palavra oca numa mudez inominada.
A palavra desvitalizada raiz podre.
A palavra acessório emplumado no psitacismo do vazio com ecos ouvidos antes do dito.
A palavra escorraçada da parábola límpida alba outonal.
A palavra adverbiada adornada com verbos de teryleno letal.
A palavra anagrafada em sintaxes inconformadas à subreverência.
A palavra numa anáfora cacofónica onomatopeia surda de pejo.
A palavra possuída por uma aritmética implacável desdenhosa.
A palavra sem surpresa nua repelente comichão do a-dizer.
A palavra decrépita nem tempo nem espaço. Nada ou ruído de nada. Fragmento talvez de vento. Saudosa avena gaia.
(Fotos DR)