O desânimo ludibria-se desde o pré-tempo das cavernas, assim como o medo, seu plausível sucedâneo, pelos exorcismos que o homem atremoujado na descoberta de um mundo hostil vai congeminando para coexistir com o desconhecido e o pânico dele oriundo.
Se orkos era em grego uma espécie de sermão ou litania, exorkizein poderia ser obrigar a jurar o nome de Deus, ou pura e simplesmente um modo de arrenegar os muitos satãs que existem dentro de alguns.
Também já o português de 500, ao leme das naus encontrara numa transcendente dimensão – “Aqui ao leme sou mais de que eu: sou um povo que quer o mar que é teu…” – a coragem para desafiar os mostrengos dos “tectos negros do fim do mundo” e todos os Adamastores sopradores de tormentas. Metáfora do que mais vos convier…
Contra esse, ou esses, o colectivo soçobra, verga-se, cangote aceitado, acicatado pela ferroada da aguilhada dos modernos chips, deixando-se dominar por um demonismo cego, cruel, frio que a aridez sáfara de alguns determina, impõe e executa para a malignidade de muitos.
Como os exorcisar? Ou combater? Ou eliminar?
O homem das cavernas, à luz das fogueiras, nas sombras ágeis projectadas nas paredes lobrigou uma primeira dimensão estética – talvez da dança…
O homem actual teme a sua sombra, pois já não destrinça a sua realidade da sua virtualidade. E a virtualidade pode ser, de tão pérfida, só letal.
(Imagem DR)