Declaração de interesses: gosto de coca-cola, embora raramente beba, e tenho um smartphone que utilizo intensivamente.
Não deixa de ser curioso que uma marca como a coca-cola que, sendo um refrigerante “viciante”, é desaconselhada do ponto de vista nutricional e dietético, venha alertar para o vício da utilização do smartphone.
Se o objetivo é transformar a imagem e o vídeo () criados numa mensagem viral, talvez o consigam. Este efeito poderá ser atingido pelo ridículo da imagem criada. A Coca-cola sugere às pessoas, incapazes de desligarem-se dos seus telemóveis, que utilizem uma espécie de coleira pós-operatória, habitualmente aplicado a cães e gatos que são operados para que não cocem as feridas e arranquem os pontos.
“Num vídeo promocional lançado hoje, a marca oferece um «produto» novo chamado Social Media Guard que impede as pessoas de olharem para os aparelhos. Com a coleira o sujeito volta a prestar atenção ao mundo real, ao invés de permanecer focado no virtual a tempo inteiro.” (Diário Digital, 20/02/2014)
Terão as vendas da marca do “pai natal” diminuído?
As pessoas deixaram de beber o refrigerante porque estão “agarradas” ao telemóvel?
Os cidadãos não terão dinheiro para ambos os produtos?
“De acordo com a empresa, o mundo gasta, mensalmente, o equivalente a 4 milhões de anos online. É ou não é hora de repensar os hábitos?”
Repensar os hábitos? Parece-me muito bem. Tivesse eu euros, alguns milhões, e faria, hoje mesmo, uma campanha de mudança de hábitos alimentares e nutricionais. A minha primeira mensagem seria a de redução ou mesmo extinção do consumo de refrigerantes, com especial enfoque na coca-cola. Se a utilização excessiva do smartphone poderá ser causar danos na saúde dos utilizadores, o que dizer do consumo de refrigerantes que são, enquanto complemento habitual de fast food, causadores, em larga medida, de um dos principais problemas de saúde da atualidade, a obesidade. A prevalência da obesidade, a nível mundial, é tão elevada que a Organização Mundial de Saúde considerou esta doença como a epidemia global do século XXI.
Estará o roto a dizer mal do esfarrapado?
Se a agenda oculta da marca é apenas e tão só, assim creio, publicitar-se pelo “choque” (humanos com a dita coleira…), os seus gurus da publicidade estão a dar um “tiro no pé”. Quanto a mim, se já bebia pouco, vou beber ainda menos. Gosto do gás, ganhará mais a Água Castello: não tem açúcar, é nacional, centenária e tem nascentes em Pisões-Moura.