A Câmara de Viseu e a caça aos gatos: duas versões distintas

Pessoalmente não temos dúvidas de quem fala verdade nesta polémica em que a autarquia, uma vez mais, hábil na “labieta melosa”, vem ao ataque numa fuga para diante e perante os factos.

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  • 22:07 | Quarta-feira, 27 de Maio de 2020
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Perante a crescente indignação pública com a “caça aos gatos” por parte de funcionários da autarquia, esta sentiu-se compelida a vir a público com esclarecimentos sobre o que rotula de “Acolhimento de gatos vadios” .

Naturalmente ciente de que há legislação sobre protecção de animais e consciente de que existem milhares de donos e cuidadores de animais de companhia muito sensibilizados para esta temática, (e que são também eleitores), o comunicado posto a circular mostra-nos, por palavras, que a CMV “está, desde sempre, empenhada na causa animal, no seu bem-estar e na prestação de tratamento digno aos animais…”

Outrossim não pensa, por exemplo o BE, que e perante os factos, traz a lume:


“Onde estão os gatos de Viseu?

Armadilhas da Câmara Municipal de Viseu para capturar gatos foram entregues a morador da Rua Nuno Álvares Pereira, segundo relatos, no dia 20 de maio. Os animais capturados são periodicamente levados por funcionários do município.

Ouvidos os moradores da rua, durante o fim de semana os gatos ficaram na jaula ao sol, durante 3 dias, em agonia, sendo que um dos que foi recuperado estaria com feridas de bater em stress contra as grades.

A revolta de todos os moradores com quem falámos é imensa. Os gatos fazem parte do equilíbrio existente, que impede que voltem a aparecer pragas de ratos e ratazanas, como no passado. Alguns animais são comunitários, tendo vários tutores, outros são alimentados e tratados por pessoas específicas, partilhando tanto as casas como os jardins.

Contactados vários ativistas da causa animal e tratadores de colónias de gatos do concelho, deparámo-nos com muitas suspeitas sobre o destino dos animais capturados. Mandam as boas práticas, e permite a lei, que os animais entrem em programas CED – Captura, Esterilização e Devolução, mas, segundo vários relatos, quando existem capturas, nunca há devoluções.

Assim, segundo as informações de quem todos os dias anda no terreno a tentar proporcionar melhores condições para os animais errantes, não há reais programas CED, tendo o município recusado a esterilização de animais em colónias acompanhadas, sempre com o argumento da falta de verbas. Ora a “boa saúde” financeira do município é largamente propagandeada. Façamos o correto e avancemos para a vacinação, desparasitação e esterilização das colónias que muito contribuem em ambiente urbano para o controlo de pragas, evitando assim o aumento incontrolado da população, sem que para isso haja abates.

Perante estas situações, o Bloco de Esquerda vai questionar o município de Viseu sobre o porquê de as jaulas se encontrarem especificamente naquela moradia, não havendo qualquer sinal de que houvesse um problema para a zona; onde se encontram os outros locais de captura de animais relatados; qual o destino dos animais depois de recolhidos pelos funcionários da Câmara Municipal. Também questionaremos sobre a existência de programas de CED – Captura, Esterilização e Devolução, que programas de vacinação existem e quantas colónias de animais têm sinalizadas e acompanhadas.

O Bloco irá ainda requerer os dados registados destas capturas, para que seja público quantos animais são esterilizados, quantos são chipados, quantos são devolvidos a eventuais donos e quantos são adaptados.”

A versão da autarquia

“Depois de verificar que circulam informações completamente infundadas e que não correspondem de todo à verdade, o Município de Viseu vem por este meio fazer um esclarecimento sobre o processo de acolhimento de gatos vadios.

O Município de Viseu está, desde sempre, empenhado na causa animal, no seu bem-estar e na prestação de tratamento digno aos animais. Por isso, atua em prol da saúde pública, da segurança e tranquilidade de pessoas e animais.

De acordo com o disposto no art. 8º do D.L. nº 314/2003, de 17 de Dezembro – “Compete às câmaras municipais, atuando dentro das suas atribuições nos domínios da defesa da saúde pública e do meio ambiente, proceder à captura dos cães e gatos vadios ou errantes”.

No início de março, foi solicitada a intervenção dos serviços veterinários municipais devido à invasão diária de gatos num espaço de uma habitação onde urinavam e defecavam. Sendo gatos de rua, sem cuidados de saúde básicos como a vacinação, esta situação representa um risco para a saúde pública e para os outros animais domésticos. Neste sentido, o Município de Viseu preparou a recolha destes animais. A recolha foi feita de forma a garantir a tranquilidade e segurança dos animais, foi colocada uma jaula à sombra, num local fresco, com água e comida. A transportadora utilizada tinha também água e comida. Até ao momento foram recolhidos dois animais que se encontram agora na Associação Cantinho dos Animais Abandonados de Viseu, onde são observados, desparasitados e vacinados para posteriormente serem esterilizados e socializados de forma a poderem ser adotados de modo responsável, dando ao animal um local onde ganhe confiança, receba festas e se estabeleçam ligações seguras entre os detentores e os animais.

O Município de Viseu não procede à recolha de animais com detentores, vacinados, desparasitados e esterilizados. Nunca o fez nem é esse o seu entendimento.

O Município de Viseu repudia todas as atitudes de ameaça a colaboradores, especialmente quando verificadas sobre premissas falaciosas.”

Pessoalmente não temos dúvidas de quem fala verdade nesta polémica em que a autarquia, uma vez mais, hábil na “labieta melosa”, vem ao ataque numa fuga para diante e perante os factos “apanhados” que lhe descobrem a careca.

O leitor dilucidará por si próprio. Pela nossa parte, estas louváveis denúncias de cidadãos atentos só acontecem porque não há fumo sem fogo. Ninguém se empenharia numa reclamação/denúncia se não houvesse fundamento real que a fundamentasse.

No fundo, nesta e em muitas outras matérias, só há necessidade de dar esclarecimentos… quando o agir foi/é suficientemente equívoco e ambíguo para os provocar.

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Publicado em Opinião