Moça amiga, em noite fresca, contou-me uma história.
Ela, professora, e o irmão, técnico de saúde, são, há nove anos, cuidadores da Senhora sua Mãe. Fazem-no, certos de que o acolhimento num lar, seria a morte antecipada de a quem querem tão bem.
Revezam-se nos horários, multiplicam os braços e as pernas, estimulam o cérebro, na tentativa sôfrega de encontrarem saídas para uma situação difícil. Para tanto, vão beneficiando de alguma compreensão e benevolência, absolutamente entendíveis, por parte das entidades empregadoras.
E cuidam, e cuidam, não desistindo de cuidar. Há 9 anos. Não poupam na presença, fazem milagres de amor, excedem-se nos carinhos, são anjos da guarda de quem os trouxe ao mundo, e os criou. Cuidam de quem deles cuidou.
Não há vislumbre de arrependimento, não há nota de rejeição, não há uma má palavra. Com eles, não se deslaçam os vínculos do afecto.
O cuidado a ascendentes, supostamente mais frágeis, mais vulneráveis, não tem enquadramento legal, que permita a filhos ou netos acompanharem devidamente pais ou avós, quando eles definham, perdem autononomia, e mais precisam de um familiar por perto, de uma voz que seja um bálsamo para as dores da idade.
Se não estamos na presença de cegueira política, ou de insensibilidade do legislador, trata-se então de uma anedota torpe, a engrossar o catálogo nacional dos assuntos risíveis.