A ambição doentia

Verdade se diga que neste sistema semipresidencialista, os poderes presidenciais são reduzidos, quase insignificantes, no caso de maiorias absolutas. Mais de influência e de referência. Mais de garante e de equilíbrio. Mesmo assim, o poder da "bomba atómica", cujo botão só ele pode accionar, tem o seu quê de importante, pela reversão que pode provocar nas instituições políticas.

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  • 19:02 | Segunda-feira, 06 de Janeiro de 2025
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As presidenciais não saem da agenda. Chegaram para ficar, apesar de um longo ano ainda faltar para as eleições. Vai ser penoso e desgastante este caminho até lá.

Parece-me, sem que nenhum passarinho me tenha dito, que o governo anseia pela saída de Marcelo, sempre imprevisível nas intervenções, alinhamentos e alianças. Pelo tempo, que ainda irá decorrer, pelas figuras que se apresentam na grelha de partida e pelas outras, que, escarafunchando e bulhando, anseiam pela sua oportunidade. Rezando para que alguém, pagando favores, se lembre delas e as retire do armário, de fato amarfanhado e cabelo com teias de aranha.

Como basta andar nesta vida há 35 anos e recolher umas miseráveis 7.500 assinaturas, qualquer português se pode candidatar ao cargo. Se, entretanto, se permitir acrescentar outro requisito, este, de índole mais pessoal. Sentir-se capaz de exercer a mais alta magistratura da Nação, que Rebelo de Sousa, cultivando uma proximidade excessiva, de certa forma, banalizou, com os seus ímpetos de pendor populista: os abraços, os beijinhos, as selfies. Não há gato pingado que se preze, que não tenha no telemóvel um retrato com o sr. Marcelo.

O que para aí vai de candidatos e protocandidatos faz enjoar o mais são aparelho digestivo, descredibiliza o cargo, desprestigia o país. Pensar que qualquer um pode alimentar esse sonho não é democrático, é doentio. Ter uma carreira partidária, sabendo muito bem como, e de que forma, muitas vezes, ela é conseguida, não pode ser currículo nem cartão de crédito político.


Ler e reler a lista de gente que, passando pela coxia, se chega à boca de cena, ao palco iluminado, só com muito esforço e sacrifício se pode calar a estranheza.

Verdade se diga que neste sistema semipresidencialista, os poderes presidenciais são reduzidos, quase insignificantes, no caso de maiorias absolutas. Mais de influência e de referência. Mais de garante e de equilíbrio. Mesmo assim, o poder da “bomba atómica”, cujo botão só ele pode accionar, tem o seu quê de importante, pela reversão que pode provocar nas instituições políticas.

Ainda assim, é prudente que, quem ganhe, o consiga não apenas pela gestão vacinal, pelo prestígio académico, pela fluência no falar. Tendo tudo isso o seu peso e sendo tudo isso importante para o “ego” de cada um, convenhamos que é pouco, muito pouco para a comunidade nacional.

Respeitabilidade, credibilidade, autoridade moral, cívica e política, bom-senso, espírito moderador, carisma, uma mão-cheia de requisitos que não encaixam no perfil de muitos daqueles que os fazedores de opinião vão construindo e impingindo. Mais fariseus e zelotes do que propriamente pessoas confiáveis no desempenho do cargo. Mesmo poucochinho, isto de ser Presidente da República não pode ser para qualquer.

Para misérias, já basta o que basta.

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Publicado em Opinião