A rapaziada política das nossas praças aposta fortemente na efemeridade da notícia e na desmemória do cidadão, o qual, paulatinamente vai intoxicando com outra informação, em catadupas, muitas vezes meras falácias, outras apenas manobras de distracção/diversão, raramente algo de substantivo…
Também acerca da Viseu Marca muito se falou, muito se interrogou e até uma petição pública foi feita por um grupo de cidadãos, para levar os “proprietários” desta parceria pública privada a prestar INTEGRALMENTE as devidas contas. Sem quaisquer subterfúgios.
Diga-se em abono da verdade que a oposição PS também o fez, com um pedido ao CADA, alegando falta de transparência em certas rubricas, etc. Mas, de repente, calou-se…
A CMV, como lhe é costume, veio a terreiro atordoar pelos seus habituais canais da “comunicação social”, que tudo tinha sido devidamente apresentado, que a transparência era o seu ex-libris e que nada havia a esconder.
Mas pelos vistos e até melhor prova e evidência havia e/ou há… ???
Lembremos que Almeida Henriques, o autarca “estupefacto & indignado” das conferências de imprensa, veio até dizer, com voz grossa:
“Só por manifesta ignorância ou falta de seriedade se pode afirmar que as contas da Viseu Marca não são públicas ou transparentes. “
Afinal de quem é a Viseu Marca que, entre outros, gere a Feira de São Mateus?
Como se julga saber (?), a Viseu Marca é uma Associação entre a CMV e a AIRV. No acto societário de constituição, assinado por Joaquim Seixas e Carlos Marta (então temporário “manda-chuva” da AIRV), as respectivas quotas estão omissas, como se pode ler na cláusula 14ª da página 12, o que é estranho.
Porém, nas contas da AIRV consta que esta associação é detentora de 48% do capital social da Viseu Marca (vidé página 46 ponto nº 13). Nas da CMV e ao que se apurou, consta que esta autarquia detém igual montante. Ora 48+48=96. Certo? Os 4% em falta?
Esses 4%… diz na IES (Informação Empresarial Classificada) é capital não subscrito. Como assim?
Quanto aos Relatórios e Contas apresentados e por exemplo referentes ao ano de 2016, algumas gerais minudências, entre tantas outras possíveis…
Fornecimentos e Serviços Externos de 1,6 milhões de euros, sendo que destes cerca de 470 mil euros são em subcontratos (não especificados) e 745 mil euros em Serviços Especializados. Destes, 166 mil em Publicidade e Propaganda e 378 mil em “outros”. Ter este valor tão elevado em “outros” significa o quê?
O mesmo e por exemplo referentes ao ano de 2017:
Fornecimentos e Serviços Externos de 1,7 milhões de euros, sendo que destes cerca de 504 mil euros são em subcontratos (não especificados) e 690 mil em Serviços Especializados. Destes, 191 em Publicidade e Propaganda e 145 mil em “outros”…
Estes números podem ler-se nos “Resultados Financeiros “ Anos 2016 e 2017.
E por exemplo, no ano de 2018:
Fornecimentos e Serviços Externos 1,6 milhões de euros, sendo que destes cerca de 563 mil euros são em subcontratos (não especificados) e 595 mil em Serviços Especializados. Neste ano não é possível determinar o detalhe em Publicidade e Propaganda e em Outros… esses valores estando omissos.
E quanto a proveitos?
Ano 2016….vendas e prestação de serviços de 1,9 milhões de euros, ano 2017 vendas e prestações de serviços de 2,1 milhões de euros e no ano 2018 vendas e prestações de serviços de 2,3 milhões de euros… Ou seja, grosso modo, 6,3 milhões de euros. É muito euro…
E porque é que a opinião pública, a oposição “rosa” na Câmara de Viseu e outros deixaram cair as questões tão empenhadamente num dado momento apresentadas?
Provavelmente ficaram todos muito satisfeitos com as respostas obtidas, até aquelas sobre júris de concursos, sobre quem é quem dentro da Viseu Marca, etc. e tal…
Por vezes, estas dilações temporais e este “cala consente“, faz lembrar a tristemente célebre LUSITÂNIA, ADR… um dos insondáveis mistérios da região e das “transparentes utilizações de fundos comunitários“. Andou, andou, andou, o tempo passou, passou, passou… até que ali para os lados da Zona Industrial de Coimbrões a “coisa” se extinguiu. E quem foi o extintor? Boa pergunta… Uma banal curiosidade, será que a “entidade extintora“, por mera, irrelevante e académica hipótese, tem alguma relação com a Viseu Marca?
Se eventualmente tiver, o que é pouco plausível, só pode ser mera coincidência.
(Foto DR)