Carlos Paixão deu ao prelo o seu último livro, desta feita consagrado ao Sátão, antiga Vila de Igreja e numa preciosa compulsação de memórias, também fotográficas, de tempos idos.
“Comemora novecentos e dez anos de atribuição do Foral do Sátão com a publicação de “Vila de Igreja – Sátão, Olhares e Memórias” constitui uma exaltação patrimonial, das pessoas, das memórias, dos usos e costumes, da nossa Freguesia. (…) Com este livro, o executivo da freguesia ambiciona perpetuar as origens e as características ímpares dos Satenses. Fotografar os locais, fotografar as pessoas, celebrar as tradições, celebrar o Sátão e a sua memória. “
E a ler este pródigo testemunho sente-se que o objectivo foi integralmente atingido, com rigor e qualidade. Uma bela homenagem.
Escreve na Introdução, o autor Carlos Paixão:
“O Homem do Sátão, queiramos ou não, não é o mesmo. As crianças deixaram de nascer na sua casa e não é necessário matar a galinha velha para acudir à parturiente com uma canja. Já não se atende ao choro do bébé com uma nena de açúcar, nem se ameaçam os mais novos com o tolo dos paus. Os padrinhos mudaram os nomes e os ‘afolares’, os rapazes esqueceram o arco, o eixo, as meninas ainda têm bonecas mas esqueceram a macaca e as pedrinhas. Os rapazes já não aproveitam para falar às raparigas, enquanto dançam no terreiro ou nas idas, de cântaro à cabeça, à Fonte das Virtudes (…) Memórias que se extinguem, como o pavio aceso, se cada um de nós não alimentar a torcida da nossa identidade. Os lugares e os tempos mudaram, mas só continuaremos a criar raízes se tivermos chão. E o nosso chão é Vila de Igreja, é o Sátão.”
A páginas 30 escreve Carlos Paixão:
“Dia 10 de Maio, faleceu, com sessenta e cinco anos, o Dr. Hilário de Almeida Pereira, que daria o nome atual à avenida principal. Foi dele a visão do novo Sátão. Comprou a quinta, onde se ergueram os Paços do Concelho, a Praça do Município, as Escolas, os Correios, a Garagem da União, a Pensão Império, o Colégio e a Sopa dos Pobres da Nossa Senhora da Graça.”
Com orgulho, refiro: Era o meu avô paterno…
Ainda bem que no Sátão há autarcas como o meu estimado Tó Zé Carvalho que conheço desde muito menino e que se impõe quotidianamente pela sua honradez, visão, acção e competência.
Ainda bem que há homens como o Carlos Paixão, para nos deixar o testemunho das nossas raízes.