Verdades alternativas ou a era dos charlatães

Estranhos tempos estes, tempos da charlatanice mais miserável, tempos de irrupção súbita de todas as calamidades: sejam elas o coronavírus, sejam os líderes mundiais do pior topete.

Tópico(s) Artigo

  • 21:09 | Quarta-feira, 01 de Abril de 2020
  • Ler em 2 minutos

Estranhos tempos nos quais as elites dominantes, em muitos países, são piores que vermes, sevandijas e biltres de duvidosa extracção ética e moral.

Aqui há uns dias editei uma crónica intitulada “A verdade é uma palermice?” na qual se teciam considerações sobre a desvalorização da verdade, sobre o “bullshit” que é o novo discurso da treta, da palermice e da aldrabice e nas verdades alternativas de Trump, que proferindo quotidianamente falácias nas quais parece acreditar e tendo uma fantástica máquina de divulgação do seu “bullshit”, acaba por proferir mentiras que são, ao fim e ao cabo, “o reflexo fiel dos seus valores”.

A jornalista Eva Illouz escreveu:


“A tirania apostou sempre na nossa negligência, na nossa apatia ou na nossa estupidez, para esmagar a verdade. A verdade continua a ser uma arma necessária para combater os tiranos e todos quantos dizem palermices.”

Pois talvez, mas pelos vistos a verdade não é o “que está a dar”. Senão vejamos apenas estes exemplos:

Bolsonaro, presidente do Brasil, depois de todas as desconexas afirmações e atitudes desvalorizando a pandemia, incentivando o povo, perante as câmeras, a comportamentos de risco, está agora muito “preocupado com a gripe, com o desemprego e com os pobres”. Ao emendar a mão, cauciona o seu alvar cinismo com a pseudo nobreza da preocupação com aqueles com os quais nunca teve qualquer atitude de apoio ou beneficiação social.
Já o mestre de cerimónias da pantomina mundial, Donald Trump, presidente dos EUA, na sua costumeira prática pendular do sim-não-sim-não-sim, perante os já não mais indisfarçáveis factos, entrou na fase convicta do “nim”, com mais uma cambalhota à rectaguarda—» “a cura não pode ser pior do que a doença”, dizia na semana passada, agora, depois do número de infectados ultrapassar os da China, o discurso mudou –» “A contenção é muito ruim para a economia, mas a economia é a número 2 na minha lista. Primeiro, quero salvar muitas vidas”. A tónica é a mesma da caução nobre ao real cínico usada por Bolsonaro,  e entretanto, teatralmente, com o rosto a dois tons de escarlate e branco, profere todas estas verdades alternativas com os olhinhos semicerrados, como se estivesse em transe místico, a fazer boquinhas de trompetista de blues e gestualização a duas mãos, com o polegar e o indicador, a pontuar a narrativa do hipócrita fingimento..

Estranhos tempos estes, tempos da charlatanice mais miserável, tempos de irrupção súbita de todas as calamidades: sejam elas o coronavírus, sejam os líderes mundiais do pior topete. E não apenas no continente Americano…
No fundo, tempos de trapaça e de embuste adequados e estudados para o acriticismo vigente da grande maioria da população mundial.

Gosto do artigo
Palavras-chave
Publicado por
Publicado em Editorial