Mudam-se os tempos, mudam-se as vontades,
Muda-se o ser, muda-se a confiança:
Todo o mundo é composto de mudança,
Tomando sempre novas qualidades.
Pois assim o escreveu Camões… Todavia, se o homem se repete no seu agir à luz da evolução dos tempos, cada vez parece regredir mais nos seus atávicos defeitos.
Andam à solta cobardolas, “tipos do jeitinho”, amigalhaços do favorzinho uns, corruptos com pouca vergonha outros, gentalha a fazer sua a coisa pública, delapidando erários com a trupe do favorecimento, comprando e vendendo votos a dez réis de mel coado, a gentinha que gosta do tacho e do penacho, da comodidade e do comodismo, da oportunidade e do oportunismo.
Rapaziada que se acomodou ao bem-bom das existências encostadas, arrimados a um qualquer poder que lhe permite mandar nalguns – pobres coitados da dependência – e muito arredios do trabalho suado, seja braçal seja do meio neurónio que ainda lhes oscila dentro do “cerbo” anquilosado.
No fundo, uns “coitados” a inquinar quanto tocam, quanto à volta de seu estreito círculo se move, na frustraçãozinha da sua larvar incompetência enleada na bizantinice dos compromissos, na criação da expectativa, na troca e vende do favor.
Continuamente vemos novidades,
Diferentes em tudo da esperança…
Essas novidades que Camões adivinhava, de novo nos trazem o aviltamento do agir, o chico-espertismo consentido, o adejar da empáfia nos peitinhos impados de bafio.
Andam por aí e crescem como dantes crescia o tortulho na caruma húmida, os encostados, do subsídio que sempre ajeita o salário já não pago em sal, antes em euros de lei, cumulados com bizarras gratificações, mordomias, representações e… imobilidade de acção. Sendo esta a mor “qualidade” que Camões referia.
Vendem a escassa verticalidade que os afastou dos símios na postura e QI, por um pires de pevides. Trocam as camisolas políticas que a alguns deram a “elevação” que ostentam, por uma malga de tremoços. Mas mais, traficam a parca dignidade que porventura ainda acolhiam, por uma mão recatada e ancha com 30 dinheiros.
Escudam-se numa impunidade efémera e resguardam-se na amnésia da opinião pública que os tolera como indigentes doutores da mula ruça, mal necessário para o pseudo-equilíbrio do rebanho social.
Desconhecem vergonha, pejo e pudor, aquela por encolhimento da dignidade, estas por acanhamento e prelazia do escrúpulo. Ademais, muito se assemelham a colunas jónicas, de papelão, quando a subserviência os tornou na tolhedora e obscena inércia factual. O Compadre Zacarias, mais drástico, chama-lhes “poios engravatados”.
O doce Camões acrescentaria…
Do mal ficam as mágoas na lembrança,
E do bem (se algum houve) as saudades.