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Paulo Neto
Se eu fosse monárquico provavelmente agora ficaria farto de Reis. Até do Dia de Reis. Farto de Alexandra Reis e das mirabolantes e ziguezagueantes ondas do tsunami que esta senhora desencadeou fruto, talvez, de uma inaudita cupidez, permissivamente acautelada pela ambígua gestão de administradores da coisa pública.
Hoje, um deputado do PCP falou em “vencimentos obscenos”. E decerto o são agravados ainda por estas sibaríticas indemnizações quando mudam de “poleiro”. Assim se tratam, os deuses lá pelo Olimpo onde se ergueram…
A nós, cá fora, àqueles que nunca se encostaram à política para serem alguém e ganharem o pão nosso de cada dia, fica-nos no ar a pairar o cheiro da podridão, do consentimento, das anuências enviezadas, das alarves permissões, das imorais concessões.
Já há tempos tínhamos percebido que, por exemplo, na CGD, o banco público, houve pagamentos por saída da administração a roçar o milhão de euros. Estes tipos valem quanto pesam, em ouro de lei. Claro está que a CGD com o seu magno “boss”, dá bons lucros. Mesmo que eles venham daquilo que é pago pela grande maioria dos seus anónimos e mais humildes clientes, à custa do recorrente encerramento de balcões, à custa de rescisões com colaboradores, à custa das elevadas taxas e comissões cobradas e dos juros de valor zero não pagos. Mas o “boss” já era abençoado quando passou pela Saúde e foi apodado de seu “coveiro”. Por isso não há de que nos admirarmos. Os coveiros parecem estar em alta… se bem que tenham como função descê-los à cova.
A comunicação social, por seu turno, tem feito deste charivari uma festa rija, prenhe em conteúdos para encher chouriços.
Nós, humildes cidadãos, continuamos sem resposta a algumas dúvidas e uma delas, grave, a mero exemplo, é a da clarificação dos milhões gastos em aeronaves adquiridas a um preço superior em 20% aos praticados no mercado, dizem. Dizem ainda que está tudo na IGF. Mas afinal, quem tutela a Inspeção Geral de Finanças? Quantos anos vai levar até dar resposta? Decerto os suficientes para que o assunto se esgote e a memória colectiva se desvaneça.
No Parlamento, a música vai animada. O PSD toca tambor, o Chega ribomba na pandeireta, a IL dá-lhe no flautim, o PAN estridula na gaita de foles. Foi bonita a festa, pá, mas serviu apenas para gáudio dos gaiteiros. Pouco mais carreia de substantivo. Em Roma era o circo…
E o país, neste lodaçal, parece ter esquecido que ao esquálido povo falta o dinheiro para pagar a renda do T1, o empréstimo da casa, a conta da farmácia, o aprovisionamento na mercearia, e etc.
Pululam ainda por aí, também, os chico-espertos, como os de uma certa e afamada padaria/pastelaria de Viseu, onde são cobrados 10 cêntimos por fatiar o pão que vendem, servindo plenamente de alegoria aos especuladores que, um pouco por todo o lado, se vão empanzinando à custa da miséria alheia.
Nota: Ilustração de Bordallo Pinheiro “O Dia de Reis”
(Foto e imagem DR)
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