Na CDU de Viseu parece haver uma pendularidade intrigante. Filomena Pires, na Assembleia Municipal, é uma voz activa, participativa, interessada que questiona, interroga, duvida. Não está ali para “comer calada”. Está ali para desempenhar o seu papel de eleita, com convicções, dúvidas, defendendo os interesses dos munícipes que a elegeram. Prova disso foi a última AM de 28 de Março e a sua brilhante intervenção sobre mais uma instituição criada pelo município, a Associação Viseu Amiga, cujos fins, contornos ambíguos e eventual ilegalidade a levaram a uma reacção pertinente e dura.
Este executivo tem este tipo de engenharia muito em moda até no governo do partido que representam: extinguir e criar (ou recriar com outro nome) instituições que, e por algum motivo não estavam a prestar os “inefáveis” serviços. Vender para alienar património. Colocar nas mãos dos privados e provavelmente arranjar uns lugarzinhos para uns desempregados políticos que ficaram por aí a arrastar a sua claudicação profissional…
Contudo, em contraponto, na Junta de Viseu, nos momentos cruciais, o representante da CDU ou falta, ou se abstém, ou vota a favor de quanto lhe apresentam pela frente. Não tem dúvidas e parece “assinar de cruz”. É estranho. Ou age na sua singularidade pensante, fora do colectivo a que pertence, ou esta bizarra oscilação põe em causa créditos, reputação e o trabalho sério de Filomena Pires. O pior é que no momento de eleições, no momento de votar, as pessoas confundem-se. Não sabem como votar a favor de Filomena Pires e contra o Serra, da Junta…
E aqui vai tudo a eito. Diamantino (tal antroponímico faz-me lembrar o português-brasileiro de torna-viagem, o Dêdê aquiliniano, meio carioca meio beirão e sempre “despachadíssimo”, na novela “Mina de Diamantes”), fruto da confortável maioria dada por Luís Lopes e João Serra, do BE e da CDU, aquando da votação do Orçamento – por abstenção e ausência, respectivamente – está confortavelmente usufruindo das regras democráticas, apresentando despesas que nem se dá ao trabalho de justificar e tomando insólitas atitudes como esta última de ter convidado António Vicente (cidadão que respeitamos e estimamos) a escrever um livro. Sobre quê? Sobre as anteriores juntas, uma espécie de memorial ou historial da obra feita. Quais os critérios? Quantos exemplares para oferecer aos amigos? Quanto custa o empreendimento? Às perguntas responde zero. Não dá confiança. Tem os votos e o apoio da tal esquerda…
As Juntas ricas e sem ideias positivas em prol da instituição que representam e dos eleitos que os sufragaram, não fazem obra. Escrevem sobre as obras passadas… E sempre pode apor a assinatura no prefácio. Para a posteridade ou para mais tarde recordar. E prefácio vem de “pré feito” o que não é a mesma coisa de posfácio, que é o feito no fim. No fim da obra, claro está…
E quase ouvimos a cristalina voz de Luís (o Vaz de Camões) entoar:
As armas e os barões assinalados
Que da Ocidental praia Lusitana,
Por mares nunca dantes navegados
Passaram ainda além da Taprobana,
Em perigos e guerras esforçados
Mais do que prometia a força humana
E entre gente remota edificaram
Novo Reino, que tanto sublimaram;
E também as memórias gloriosas
Daqueles Reis que foram dilatando
A Fé, o Império, e as terras viciosas
De África e de Ásia andaram devastando,
E aqueles que por obras valerosas
Se vão da lei da Morte libertando
Cantando espalharei por toda a parte
Se a tanto me ajudar o engenho e arte.